
Um colapso inesperado
Na manhã de 28 de abril de 2025, pouco depois das 11h30 (hora de Lisboa), um fenómeno súbito deixou residentes e empresas da Península Ibérica sem eletricidade. Sem aviso prévio, sem margem de manobra: Portugal continental, a Espanha peninsular e o sudoeste de França mergulharam nas trevas num ápice. Em Lisboa, os semáforos deixaram de piscar, as carruagens do metro interromperam as viagens, e milhares de elevadores ficaram suspensos entre andares. A rede móvel, com chamadas congestionadas, debatendo-se entre falhas e mensagens que tardavam a chegar, tornou-se uma memória parcial da rotina digital.
Ao longo de cinco minutos, o que começou como uma oscilação impercetível transformou‑se num corte total de energia. Nas centrais hidroelétricas, nas linhas de alta tensão e nos centros de controlo, assistiu‑se a um balé caótico de alarmes. No Observatório da Rede Elétrica Europeia, olhos atentos registaram uma desincronização abrupta entre os vários nós da rede, sinal de que algo fora do normal se passava. Mas, naquele instante, ninguém sabia ao certo o que havia desencadeado o fenómeno.
As causas e as teorias
Em poucas horas, multiplicaram‑se as explicações para o choque de frequência. A empresa gestora da rede portuguesa apontou para um fenómeno atmosférico raro, com variações de temperatura que induziram oscilações nas linhas de alta tensão, desestabilizando a sincronização entre os sistemas. Por outro lado, a REN avançou que um incêndio entre Perpignan e Narbonne, no sul de França, poderá ter danificado cabos cruciais, arrastando toda a malha elétrica para um efeito em cadeia.
No plano político, surgiram vozes a alertar para a hipótese de um ciberataque, alimentando um debate em que especialistas de Proteção Civil, autoridades de segurança e técnicos de redes se confrontaram em torno de cenários de vulnerabilidade. O Incibe, agência espanhola de cibersegurança, anunciou a abertura de uma investigação aprofundada, enquanto operadoras reivindicavam a plena normalização das verificações de sistema antes de descartar qualquer pista maliciosa.
Apesar da multiplicidade de explicações, a verdade é que só com o restabelecimento progressivo da energia — ao longo da tarde — foi possível recolher dados suficientes para envolver universidades, centros de investigação e organizações internacionais na análise do incidente. O resultado antecipado aponta para a confluência de fatores: um breve pico de temperatura, o incêndio e, possivelmente, textura humana na vigilância remota dos sistemas.
Os impactos e a retoma
O rasto de danos foi vasto. Hospitais ativaram geradores de emergência para manter unidades críticas em funcionamento, ainda que tenham sido adiadas cirurgias e consultas não urgentes. As estradas ficaram sem semáforos, obrigando a uma presença policial reforçada para regular o trânsito, enquanto supermercados passaram a aceitar apenas pagamentos em numerário ou cartões bancários com bateria residual.
No setor dos transportes, comboios de longa distância e metropolitano ficaram paralisados. O Aeroporto de Lisboa suspendeu operações durante horas, reabrindo após restauro parcial, e as companhias aéreas enfrentaram cancelamentos em série. As autarquias mobilizaram planos de contingência para a recolha de resíduos, a manutenção de bombas de água e a reposição de serviços básicos.
Politicamente, o primeiro‑ministro convocou um Conselho de Ministros extraordinário, enquanto o debate eleitoral agendado para a noite — no âmbito das legislativas de maio — foi adiado. Líderes regionais e autarcas exigiram esclarecimentos e compensações, num clima de apreensão que persiste mesmo depois da luz ter regressado.
Passado o choque inicial, a reposição de energia decorreu de forma faseada, com fragmentos do país a reconectar‑se à rede entre as 14h00 e as 21h00. A E-Redes garantiu que, até ao final da semana, todo o abastecimento estaria normalizado, prometendo reforçar os sistemas de monitorização de frequência para evitar nova hecatombe.
O apagão europeu de 2025 lança um desafio claro: repensar a resiliência das redes elétricas, integrar respostas colaborativas entre países e acelerar investimentos em tecnologia de deteção e mitigação de falhas. Seis meses após o incidente, técnicos europeus preparam simulacros e revisitam protocolos de emergência, enquanto o cidadão comum recorda com apreensão as horas em que a luz se extinguiu sem aviso.
Mais do que um caso isolado, este episódio reforça a necessidade de um esforço concertado para proteger infraestruturas críticas de fenómenos naturais, acidentes e actos deliberados. Na era da eletricidade inteligente, o maior blackout dos últimos 20 anos deixa lições que não podem ser esquecidas.