Na freguesia de Molelos, concelho de Tondela, distrito de Viseu, a arte do barro negro é mais do que uma tradição; é uma herança cultural que remonta ao século XVI. Este saber-fazer ancestral, transmitido de geração em geração, envolve um processo único de cozedura conhecido como "soenga", que confere às peças a sua característica cor negra.
Atualmente, são sete os oleiros que mantêm viva esta arte em Molelos. Entre eles, destaca-se o mestre Carlos Lima, que aprendeu o ofício com o seu pai e avô, e que continua a moldar o barro com a mesma dedicação de outrora. As peças produzidas vão desde cântaros e bilhas a moringues e chocolateiras, todas com funções utilitárias e decorativas.
A importância desta tradição foi recentemente reconhecida pelo governo português, que classificou a arte do barro negro de Molelos como Património Cultural Imaterial. Este reconhecimento visa salvaguardar e valorizar uma prática que é parte integrante da identidade cultural da região.
O processo de cozedura das peças de barro negro é o que lhes confere a sua tonalidade única. A soenga consiste em cozer o barro ao ar livre, numa cova escavada na terra, onde as peças são colocadas e cobertas com materiais como caruma e torrões. A ausência de oxigénio durante a cozedura resulta numa atmosfera redutora, que transforma a cor do barro em negro.
Este método tradicional é não só uma técnica de produção, mas também um ritual comunitário que reforça os laços sociais e culturais da comunidade de Molelos. A soenga é um testemunho vivo da engenhosidade e resiliência dos oleiros portugueses.
A arte do barro negro de Molelos não só foi reconhecida a nível nacional, mas também conquistou o palco internacional. Na Exposição Mundial de Osaka, no Japão, a tradição da soenga foi apresentada no Pavilhão de Portugal, atraindo milhares de visitantes e destacando-se como um exemplo do rico património cultural português.
Esta exposição internacional não só aumentou a visibilidade da olaria de Molelos, como também abriu portas para novas oportunidades de mercado e turismo cultural. A Comunidade Intermunicipal Viseu Dão Lafões, em colaboração com o município de Tondela, tem desenvolvido iniciativas para promover e preservar esta arte, garantindo a sua continuidade para as futuras gerações.