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Chega de desperdício! A Economia Circular em Portugal: cidades transformam lixo em recursos que dão futuro.

Municípios portugueses lideram iniciativas inovadoras de economia circular, convertendo resíduos em recursos e promovendo sustentabilidade local.

Rui Muniz Ferreira Rui Muniz Ferreira Jornalista de Economia e Educação | Porttugal
6 Minutos
2025-05-06 09:09:00
Chega de desperdício! A Economia Circular em Portugal: cidades transformam lixo em recursos que dão futuro.

Num tempo em que a crise climática, a escassez de recursos e os padrões de consumo insustentáveis impõem desafios cada vez mais prementes, Portugal tem vindo a destacar-se pela adoção de soluções inovadoras assentes na economia circular. Este modelo económico, que contraria a lógica linear do "extrair, produzir, descartar", tem vindo a ganhar corpo e expressão em diversos municípios, com projetos concretos que não só reduzem o impacto ambiental, como reforçam a coesão social e dinamizam as economias locais.

Em pleno Minho, Guimarães — conhecida pelo seu valor histórico — está agora a escrever um novo capítulo como referência nacional e internacional em economia circular. Através da estratégia RRRCICLO, implementada desde 2021, o município desenvolveu um plano de ação assente em quatro pilares: repensar, reduzir, reutilizar e reciclar. O projeto articula-se com instituições como a Universidade do Minho, a Resinorte e diversas associações locais, criando uma rede colaborativa que integra cidadãos, empresas e o poder local.

Em 2023, Guimarães foi referida no relatório da OCDE como uma das cinco cidades-modelo em economia circular na Europa, destacando-se na mobilização de recursos, na literacia ambiental e na integração do conceito em áreas como a construção civil, a gestão de resíduos e a educação. Segundo dados divulgados pelo município, o projeto permitiu reduzir em 17% o volume de resíduos indiferenciados em apenas dois anos.

Na cidade vizinha, Braga, a economia circular também deixou de ser um conceito teórico para se tornar prática quotidiana. O Diagnóstico para a Economia Circular, apresentado em 2022, identificou potenciais circulares em sectores como os biorresíduos, a mobilidade e os resíduos da construção.

O município aposta fortemente nas hortas urbanas comunitárias — já são mais de 120 talhões activos espalhados pela cidade — como instrumento de educação ambiental, economia local e segurança alimentar. Iniciativas como o "Cuidar Braga" e o programa Eco-Escolas envolvem mais de 8.000 alunos e já resultaram na compostagem de mais de 25 toneladas de resíduos orgânicos.

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Torres Vedras optou por começar pelo prato. O Programa de Sustentabilidade na Alimentação Escolar abrange cerca de 6.000 crianças, com ementas sustentáveis, locais e sazonais, planeadas por nutricionistas em articulação com pequenos produtores da região Oeste. Em apenas um ano, o desperdício alimentar nas cantinas escolares caiu 33%.

A autarquia também implementou critérios de adjudicação que privilegiam práticas agrícolas sustentáveis e logística de curta distância, reduzindo a pegada ecológica do fornecimento alimentar público.

Em pleno Alentejo, Évora tem liderado pelo exemplo. O emblemático Projeto Ervilha, criado em parceria com o Centro de Estudos e Promoção da Agricultura Sustentável (CEPAS), já forneceu mais de 18 toneladas de produtos frescos a escolas municipais desde 2021. Parte dos alimentos é cultivada em hortas pedagógicas geridas por associações locais e, os excedentes, são direcionados para instituições de solidariedade social, promovendo uma verdadeira economia de circuito fechado.

No Algarve, onde a escassez hídrica é uma preocupação constante, Loulé criou o projeto "Na Piscina Cuidamos da Água", permitindo o reaproveitamento de mais de 800 mil litros de água em 2023 para usos não potáveis. A água dos filtros das piscinas é recolhida, tratada e usada na lavagem de ruas e rega de espaços verdes, poupando recursos naturais e reduzindo custos operacionais.

Em Trás-os-Montes, a autarquia de Bragança apostou na inovação social. O projeto "Bragança Naturalmente Km0" inclui uma foodtruck elétrica equipada para preparar alimentos com ingredientes resgatados do desperdício. Em apenas seis meses, foram preparados mais de 4.200 pratos servidos gratuitamente em escolas e eventos comunitários, acompanhados por sessões de sensibilização alimentar.

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Mais a sul, Tavira mostra como a economia circular pode ser transversal a diferentes esferas da vida. O projeto "Fora do Lixo" foca-se na valorização de biorresíduos — através da criação de compostores comunitários em escolas e bairros — e na promoção de produtos menstruais reutilizáveis entre adolescentes e mulheres em situação de vulnerabilidade. Até agora, mais de 300 kits menstruais reutilizáveis foram distribuídos com apoio da Rede Net Circular e do Fundo Ambiental.

Embora ainda haja um longo percurso a percorrer, as iniciativas acima demonstram que a economia circular não é um luxo urbano, mas uma resposta realista e urgente à crise climática, à desigualdade social e à gestão insustentável dos recursos. Portugal posiciona-se hoje como um laboratório vivo da transição ecológica, onde pequenas cidades lideram com impacto global.

Segundo a Agência Portuguesa do Ambiente, os municípios que apostam na economia circular conseguiram, em média, uma redução de 22% nos resíduos urbanos e uma poupança de até 19% nos custos de gestão de resíduos em três anos.

Estas histórias mostram que, com visão estratégica, envolvimento comunitário e apoio institucional, é possível virar o ciclo do desperdício e transformar os desafios ambientais em oportunidades de desenvolvimento.