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Licenciados à Deriva: Jovens Qualificados Enfrentam Desemprego e Emigração

Apesar do aumento das qualificações, milhares de jovens licenciados enfrentam desemprego prolongado ou optam por emigrar, evidenciando falhas na integração dos talentos no mercado laboral português.

Rui Muniz Ferreira Rui Muniz Ferreira Jornalista de Economia e Educação | Porttugal
7 Minutos
2025-05-06 13:22:00
Licenciados à Deriva: Jovens Qualificados Enfrentam Desemprego e Emigração

Em pleno século XXI, Portugal gosta de se ver ao espelho como um país moderno e com uma juventude cada vez mais preparada. E, de facto, não faltam motivos para esse orgulho: o número de jovens com formação superior tem crescido de forma consistente. Em 2023, segundo o Eurostat, cerca de 44,3% dos portugueses entre os 25 e os 34 anos tinham completado o ensino superior. Mas, ao virar da medalha, está uma realidade menos luminosa.

Joana Ribeiro, de 28 anos, natural de Bragança e licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho, está a trabalhar como assistente de loja numa grande superfície comercial no Porto. "Enviei mais de 80 currículos desde que terminei a licenciatura. Fiz estágios não remunerados, participei em formações e cursos extra, mas continuo sem conseguir um trabalho na minha área. Já pensei em emigrar várias vezes."

O caso de Joana não é isolado. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de desemprego entre jovens com ensino superior rondava os 4,7% em 2024. À primeira vista, o número parece razoável. Contudo, especialistas como Luís Capucha, sociólogo e investigador no ISCTE, alertam que essa estatística mascara o subemprego. "Temos milhares de jovens licenciados a ocupar funções para as quais não são necessárias habilitações superiores. Estão a trabalhar, sim, mas em empregos que não valorizam as competências que adquiriram."

As áreas mais atingidas continuam a ser as Ciências Sociais e Humanas. Um estudo publicado pela EDULOG em colaboração com a Fundação Belmiro de Azevedo indica que cursos como Filosofia, História e Comunicação apresentam taxas de desemprego superiores a 10%. Por outro lado, formações ligadas às engenharias, à tecnologia e à medicina registam maior integração no mercado.

Face à falta de oportunidades, a solução parece estar, cada vez mais, além-fronteiras. Segundo o Observatório da Emigração, coordenado pela Universidade de Lisboa, mais de 25 mil jovens portugueses com formação superior emigraram em 2023. Os destinos mais procurados continuam a ser o Reino Unido, a Alemanha e os Países Baixos.

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Marta Henriques, engenheira do ambiente formada em Coimbra, vive actualmente em Eindhoven, nos Países Baixos. "Trabalhava numa empresa de consultoria ambiental em Lisboa, mas não me renovaram o contrato. Em três meses, arranjei trabalho aqui com um salário três vezes superior. Foi uma mudança radical, mas necessária."

Este êxodo de talentos representa uma perda económica real para o país. De acordo com um estudo da PwC Portugal, cada jovem formado que emigra representa um investimento perdido de cerca de 40 mil euros em formação pública. Numa altura em que o país enfrenta desafios estruturais, este desperdício de capital humano não pode continuar a ser ignorado.

O Governo tem, nos últimos anos, tentado inverter a maré. O programa "+Talento", lançado em 2022 pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), já apoiou mais de 12 mil jovens através de estágios profissionais e incentivos à contratação.

Contudo, as soluções ainda estão longe de ser estruturais. Miguel Monteiro, presidente da Associação Académica de Lisboa, afirma que é necessário repensar a própria arquitectura do ensino superior. "Forma-se em demasia para sectores sem saída e ignora-se a articulação entre universidades e o tecido empresarial."

Projectos-piloto como o "Braga +Tech", apoiado pelo IAPMEI e pela Universidade do Minho, têm mostrado que é possível criar sinergias regionais entre formação e emprego. Em Setúbal, a incubação de startups tecnológicas no BlueBiz Factory tem criado oportunidades reais para jovens licenciados em Engenharia Informática e Design Digital.

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A urgência está lá. E, como diz o povo, "não se pode tapar o sol com a peneira". Reconhecer o problema é o primeiro passo. Reposicionar o ensino, reformular as políticas de emprego e, acima de tudo, valorizar o talento jovem é imperativo para evitar que Portugal continue a formar para outros beneficiarem.