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Criptomoedas: O Sarilho pegado com Trump, da euforia de que 'agora vai' à ressaca que fez estragos

Quando o mundo crypto achou que tinha um aliado (ou alguém que não se importava), mas a mão pesada da regulação e os abanões do mercado mostraram que a coisa não era bem assim. Uma história com altos e baixos (mais baixos, se calhar).

Rui Muniz Ferreira Rui Muniz Ferreira Jornalista de Economia e Educação | Porttugal
3 Minutos
2025-05-05 19:10:00
Criptomoedas: O Sarilho pegado com Trump, da euforia de que 'agora vai' à ressaca que fez estragos

Lisboa, 5 de maio de 2025 — Olhando para trás, agora que já passou algum tempo e que a poeira assentou (ou tentou assentar), a história da relação entre o turbulento mundo das criptomoedas e as administrações de Donald Trump dá um filme. Um filme, se calhar, daqueles de suspense com toques de drama e comédia, dependendo de quem estava a assistir e do que tinha na carteira digital. A coisa começou com um certo brilhozinho nos olhos de muita gente do crypto, uma euforia meio ingénua, talvez. Afinal, cá vinha um tipo que prometia dar a volta ao sistema, que falava em desregular aqui e acolá, e o mundo das moedas digitais, ainda a dar os primeiros passos a sério para fora do nicho dos geeks e dos early adopters, achou que a sua hora podia ter chegado.

Falamos, claro, dos tempos em que o Bitcoin andava aos saltos para cima, em que a coisa parecia que ia disparar a qualquer momento sem travões. Havia quem visse em Trump um potencial aliado, ou pelo menos alguém que, por não perceber patavina do assunto (ou por não lhe ligar puto), acabaria por deixar andar, sem meter água com regras apertadas que pudessem estragar a festa. A promessa, mesmo que não dita diretamente, era a de um ambiente mais livre para inovar, para que as criptomoedas pudessem crescer à vontade, sem a mão pesada do Estado a mandar achas para a fogueira da inovação.

Mas, como em todas as boas (ou más) histórias, o caldo entornou. Ou melhor, começou a entornar aos poucos e poucos, sem que, no início, ninguém desse por ela. O entusiasmo inicial deu lugar a um pé atrás, depois a dois, e, para muitos, descambou num desespero meio mudo, meio aos gritos por dentro.

Recordem-se que a postura de Trump, quando obrigado a tomar posição (e não foram muitas as vezes que o fez de livre vontade, sendo mais por "empurrão" ou por algo ter dado muito nas vistas), foi quase sempre de ceticismo puro e duro. Chamou o Bitcoin de "scam", disse que não gostava, que não era dinheiro real, que era perigoso. Pôs os pontos nos is de uma forma que deixou claro que não via com bons olhos aquela malta das moedas virtuais a andar à solta por aí.

E se a nível de legislação gorda a sua administração, no primeiro mandato, talvez não tenha apertado tanto quanto alguns temiam (muito por desconhecimento do assunto, dizem os mais críticos), a verdade é que criou um clima de incerteza que não ajudou nada. As agências reguladoras americanas (a SEC, a CFTC, etc.) ganharam balanço e começaram a marcar o passo na fiscalização, nos processos contra projetos ou figuras do espaço cripto que consideravam estar fora da linha. A coisa começou a aquecer para quem andava nos limites ou fora da lei.

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Depois, houve os abanões do mercado em si, que, embora não sejam culpa direta de um presidente, sentem o baque das declarações, das ameaças de regulação, da instabilidade política. Quando Trump falava, o mercado ou andava aos repelões ou parava para ver o que vinha aí. A montanha russa de preços, com subidas meteóricas seguidas de quedas a pique, fez com que muitos, que entraram na onda da euforia, acabassem com água pela barba ou mesmo com a corda ao pescoço quando veio a ressaca do desespero.

Olhando para 2025, agora, com a distância de alguns meses desde o arranque deste ano e as discussões a andar para a frente sobre o futuro da regulação (e o papel que os EUA vão continuar a ter nisso, seja lá quem estiver ao leme), a história das criptomoedas no "tempo de Trump" é um estudo de caso. Mostra como a perceção (a euforia baseada, se calhar, mais na esperança do que na realidade) pode ser traiçoeira, e como a realidade, seja ela a postura oficial, a ação regulatória ou a simples volatilidade do mercado, pode ser bem dura e levar ao desespero.

Para quem investe a partir de Portugal, esta saga americana também tocou e toca ainda. O mercado crypto é global, e o que acontece lá nos EUA, com as decisões de quem manda ou as declarações de figuras com peso, sente-se cá. A entrada em vigor do MiCA na Europa, que pôs ordem na casa para as stablecoins e outros cripto-ativos, é um marco importante que nos dá um quadro mais seguro. Mas a indefinição ou a mão pesada vinda do outro lado do Atlântico continua a ter impacto, seja no preço do Bitcoin, na atratividade de certos projetos ou na forma como os grandes players do mercado se movem.

Em suma, a onda inicial de euforia no mundo crypto com a chegada de Trump foi, se calhar, mal calculada. A realidade da sua postura cética e do ambiente regulatório que, apesar de tudo, foi apertando (especialmente noutras jurisdições, mas com reflexos globais, muitas vezes por arrasto da posição americana), acabou por trazer o desespero a muitos. A história não acabou, claro, mas essa primeira fase, da esperança ingénua à dura realidade que fez estragos, essa sim, já está escrita nos anais (e nos extratos de conta) do mundo das criptomoedas.

E agora, com a coisa mais arrumada (pelo menos cá na Europa, com o MiCA), a pergunta que fica é: que lições tirámos nós, do mundo crypto e não só, desta saga com o Tio Sam? Que a euforia sem pés e cabeça acaba quase sempre em desespero com água pela barba. E que, no fim do dia, a regulação, por muito que chateie, se for direitinha e com pés e cabeça, se calhar, não é o bicho papão que alguns pintam. É um sarilho necessário para que a coisa ande para a frente com um mínimo de juízo.

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