Jornalista de Economia e Educação | Porttugal
5 Minutos 
O adeus do mestre: Buffett prepara a sucessão
Warren Buffett, um dos mais influentes investidores da história moderna e amplamente conhecido como o "Oráculo de Omaha", anunciou a sua reforma aos 94 anos, encerrando uma carreira de mais de sessenta anos à frente da Berkshire Hathaway. A declaração foi feita durante a habitual reunião anual de acionistas em Omaha, num contexto onde, apesar do impacto simbólico da notícia, já se conhecia desde 2021 o nome do seu sucessor.
A importância de Buffett no universo da gestão financeira vai muito para além da sua posição enquanto CEO. Ao longo das décadas, ele construiu um modelo de investimento baseado em racionalidade, paciência e análise de valor intrínseco, que serviu de base teórica e prática para várias escolas de economia e finanças. Começou a investir aos 11 anos e transformou uma empresa tênue do sector têxtil num conglomerado global, com participações em empresas como a Apple, Coca-Cola, Bank of America e dezenas de outras.
A sua decisão de passar o testemunho a Greg Abel, actualmente com 62 anos, foi recebida com naturalidade no meio empresarial, dado que este já vinha sendo preparado para o cargo há vários anos. "Chegou a hora de Greg", afirmou Buffett, referindo-se à mudança de liderança. Ressalvou ainda que manterá todas as suas ações na empresa, reforçando o seu compromisso com a estabilidade e continuidade estratégica da Berkshire Hathaway.
Quem é Greg Abel?
Greg Abel é natural de Edmonton, Canadá, e iniciou a sua trajectória como contabilista na PricewaterhouseCoopers. Em 1992, entrou para a CalEnergy, empresa que viria a ser adquirida pela Berkshire Hathaway, o que lhe abriu caminho para integrar a estrutura do conglomerado. Desde então, tem vindo a destacar-se pelo seu perfil tecnicamente competente e pela gestão eficiente de ativos energéticos. Em 2008, passou a liderar a Berkshire Hathaway Energy, e, dez anos depois, foi nomeado vice-presidente do grupo, supervisionando todas as operações não ligadas aos seguros.
Com um estilo de liderança marcado pela discrição, foco em resultados e rigor operacional, Abel tem sido apontado como o sucessor natural de Buffett. A sua forma de gerir, centrada na eficiência e na valorização a longo prazo, alinha-se com os valores fundacionais da Berkshire. A morte de Charlie Munger, histórico parceiro de Buffett, em 2023, acentuou a necessidade de uma transição límpida e coesa, papel que Abel parece estar pronto a desempenhar.
Impacto da transição e perspectivas futuras
A nomeação de Greg Abel gerou reacções positivas entre vários analistas, investidores institucionais e nomes sonantes do empresariado mundial. Personalidades como Bill Gates, Tim Cook e Jamie Dimon destacaram a relevância histórica de Buffett e expressaram total confiança na capacidade de Abel para assumir o legado. Esta continuidade é particularmente importante dada a estrutura descentralizada e complexa da Berkshire Hathaway, que abrange um portefólio altamente diversificado com interesses em energia, ferrovia, retalho, seguros, entre outros.
No entanto, os desafios não são desprezíveis. A manutenção do prestígio e rentabilidade da Berkshire Hathaway num contexto global de crescente incerteza, tensões geopolíticas, transformação digital e transição ecológica colocará à prova a visão estratégica do novo CEO. Abel terá de lidar com novas pressões regulatórias, expectativas sociais acrescidas e uma geração de investidores mais sensível à transparência e à responsabilidade ambiental, social e de governança (ESG).
Ainda assim, o posicionamento sólido da empresa, a liquidez robusta e a herança de uma cultura empresarial disciplinada colocam Greg Abel numa posição favorável para liderar o conglomerado num novo ciclo de crescimento. A expectativa entre os académicos da área é que este momento possa representar uma nova fase de estudo sobre sucessão em empresas familiares e/ou centradas em lideranças carismáticas, como é o caso paradigmático de Buffett.
O percurso da Berkshire Hathaway a partir de 2025 será observado com especial atenção por analistas, investidores e estudiosos das ciências empresariais. Mas, se a preparação for proporcional ao legado, poderemos estar perante uma transição histórica bem-sucedida, num dos maiores conglomerados empresariais do mundo.