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Contra Todas as Probabilidades: Ciganos Quebram Barreiras e Conquistam o Ensino Superior em Portugal

Estudantes de etnia cigana de Lisboa, Coimbra e Braga quebram barreiras sociais e económicas, promovendo a revolução da inclusão académica em Portugal.

Rui Muniz Ferreira Rui Muniz Ferreira Jornalista de Economia e Educação | Porttugal
4 Minutos
2025-06-15 12:50:00
Contra Todas as Probabilidades: Ciganos Quebram Barreiras e Conquistam o Ensino Superior em Portugal

Desafios de uma Tradição Resiliente

Num país em que persistem estereótipos e desigualdades, crescem vozes que provam o contrário. Maria Gomes, de 23 anos, natural de Loures e criada no Bairro da Cova da Moura (Amadora), é hoje estudante de Engenharia Mecânica na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Filha de um casal de operários de origem cigana, Maria superou obstáculos financeiros – contou com a bolsa social da Fundação Calouste Gulbenkian – e preconceitos arraigados, muitas vezes vindos do próprio meio académico.

Em Coimbra, Joaquim Ribeiro, de 21 anos, passou de vendedor ambulante na feira de S. Francisco a estudante de Ciências Biomédicas na Universidade de Coimbra, com o apoio do programa Erasmus+ e de uma bolsa Santander Universidades. Já na Universidade do Minho (Braga), a aluna cigana Júlia Ferreira, membro da Associação Romani Portugal, lidera um grupo de tutoria entre pares para colegas de primeira geração universitária.

O preconceito estrutural e a falta de referências na comunidade rom impulsionaram a criação de programas específicos, como o Gabinete de Apoio ao Estudante da Universidade do Porto, coordenado pela professora Dra. Adriana Sousa, que promove oficinas de capacitação e workshops de orientação vocacional dirigidos a alunos ciganos de distritos como Bragança e Viana do Castelo.

Rupturas e Conquistas em Lisboa, Coimbra e Braga

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Os resultados começam a falar por si. Em Braga, a taxa de retenção de estudantes ciganos em cursos de Pós-Graduação subiu 35% nos últimos três anos, fruto de parcerias entre a Universidade do Minho e o Instituto Politécnico de Lisboa. Em Coimbra, a Unidade de Investigação em Envelhecimento do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) contratou três jovens de etnia cigana como assistentes de investigação.

Em Lisboa, a Associação União Romani desenvolveu um campus aberto de verão nas instalações do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, onde 50 jovens de 17 a 19 anos, provenientes de aldeias como Vila Cova de Alva (Distrito de Coimbra) e Ferreira do Zêzere (Distrito de Santarém), tiveram formação intensiva em metodologias de estudo, inglês e competências digitais. Estes jovens agora ingressam – pela primeira vez na história – em cursos de Direito e Sociologia na capital, gerando impacto direto nos bairros da Penha de França e Castelo.

A aposta das câmaras municipais de Bragança, Castelo Branco e Évora em contratos de mentoria, financiados pelo Programa Operacional Inclusão Social e Emprego (POISE), permitiu replicar boas práticas, reduzindo em 40% o abandono escolar antes do 12.º ano, etapa crítica para o acesso ao Ensino Superior.

Impacto na Comunidade e Políticas de Integração

O efeito multiplicador já se faz sentir: alunos ciganos que hoje frequentam mestrados em Gestão na Nova School of Business and Economics (Carcavelos) são convidados a participar em conferências internacionais em Madrid e Roma, levando o nome de Portugal e quebrando preconceitos milenares. A Fundação BPI lançou recentemente o “Prémio Memória Romani”, destinado a trabalhos académicos sobre a cultura roma, valorizando investigações de estudantes ciganos das universidades do Porto, Aveiro e Minho.

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No Ministério da Educação, em Lisboa, discute-se a criação de uma Unidade de Médiação Escolar Cigana, a implementar em 2026, para articular medidas de apoio psicopedagógico nos concelhos de maior concentração de cidadãos de etnia rom, como Cascais e Sintra.

Estas histórias demonstram que a tradição e a excelência académica podem caminhar de mãos dadas, quando há reconhecimento institucional, bolsas adequadas e redes de tutoria eficazes. O percurso de Maria, Joaquim, Júlia e tantos outros confirma uma revolução silenciosa mas consistente: a comunidade cigana está a reescrever o seu lugar no panorama universitário de Portugal.