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Mirandês: A Última Fronteira da Língua Viva em Portugal Está a Desaparecer?

Apesar de reconhecido oficialmente há mais de duas décadas, o mirandês enfrenta o risco de extinção. Iniciativas locais e nacionais procuram revitalizar a segunda língua oficial de Portugal, mas será suficiente para garantir a sua sobrevivência?

Mariana Duarte Coelho Mariana Duarte Coelho Jornalista de Viagens, Lifestyle, Entretenimento e Esportes | Porttugal
4 Minutos
2025-05-05 15:30:00
Mirandês: A Última Fronteira da Língua Viva em Portugal Está a Desaparecer?

No coração de Trás-os-Montes, entre vales e planaltos, ressoa uma língua ancestral que teima em sobreviver: o mirandês. Reconhecida oficialmente em 1999 como segunda língua oficial de Portugal, esta variante do asturo-leonês é falada por cerca de 3.500 pessoas, principalmente no concelho de Miranda do Douro e em algumas aldeias vizinhas como Sendim, Picote, Palaço, Duas Igrejas e Caçarelhos. Dados mais recentes, como os fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), indicam que apenas 0,03% da população portuguesa domina efetivamente o mirandês.

Apesar do reconhecimento oficial, o mirandês enfrenta uma luta constante contra o esquecimento. A globalização, a migração dos jovens para centros urbanos e a predominância do português nos media e no ensino colocam em risco a continuidade desta língua única. Estudos publicados pelo Centro de Linguística da Universidade de Lisboa apontam para uma queda de 45% no uso quotidiano do mirandês nas últimas duas décadas.

Esforços de Revitalização

Para combater o declínio, diversas iniciativas têm sido implementadas. Em março de 2025, o Governo português criou a Estrutura de Missão para a Promoção da Língua Mirandesa, com o objetivo de coordenar políticas de ensino, difusão e valorização do mirandês. Esta estrutura integra representantes dos Ministérios da Cultura, da Educação, da Coesão Territorial e da Presidência do Conselho de Ministros.

O Instituto de Língua e Cultura Mirandesa (ILCM), cuja sede estará situada em Miranda do Douro, encontra-se em fase avançada de implementação. Terá como funções principais a investigação filológica, a promoção de eventos culturais e a formação de docentes. A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e o Instituto Politécnico de Bragança já manifestaram interesse em colaborar cientificamente com o ILCM.

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A nível local, a Associação de Língua e Cultura Mirandesa (ALCM) tem desempenhado um papel crucial na recolha de material linguístico e na promoção de eventos culturais como o Festival Itinerante de Música e Tradições Mirandesas. Segundo o relatório anual da ALCM, publicado em dezembro de 2024, mais de 1.200 pessoas participaram em atividades culturais promovidas pela associação.

Educação e Comunidade

O ensino do mirandês nas escolas de Miranda do Douro tem sido uma ferramenta essencial na transmissão da língua às novas gerações. A disciplina é oferecida no ensino básico como opção curricular desde 2001. Segundo a Direção-Geral da Educação, em 2023 estavam inscritos 312 alunos em disciplinas de mirandês no concelho, um aumento de 28% face ao ano anterior. Contudo, apenas cinco professores estão atualmente habilitados para lecionar a língua, o que representa um gargalo significativo para a expansão do ensino.

A comunidade local mostra-se empenhada na preservação da sua língua. Grupos como o Galandum Galundaina têm promovido a cultura mirandesa através da música tradicional, com atuações em festivais internacionais e colaborações com escolas e associações culturais. O grupo lançou em 2024 um novo álbum inteiramente em mirandês, intitulado "Raízes i Lume", que já alcançou mais de 100 mil reproduções nas plataformas digitais.

Desafios e Perspetivas

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Apesar dos esforços, o mirandês continua em risco. O relatório "Línguas Ameaçadas na Europa", publicado pela UNESCO em 2023, classifica o mirandês como uma língua "seriamente ameaçada". A organização salienta a necessidade de medidas institucionais urgentes, incluindo a introdução obrigatória do mirandês em programas escolares da região e a criação de mídias locais em mirandês.

A ratificação da Carta Europeia das Línguas Regionais e Minoritárias, assinada por Portugal em 2001 mas ainda não ratificada pelo Parlamento, é vista por linguistas como um passo crucial. Segundo a Comissão Europeia, a falta de ratificação impede o acesso a financiamentos estruturais para a promoção da língua mirandesa.

A preservação do mirandês não é apenas uma questão linguística, mas também cultural e identitária. Como afirmou Orlando Teixeira, vice-presidente da ALCM, "a língua mirandesa não é só dos mirandeses, é um bem de Portugal". As próximas décadas dirão se Portugal está disposto a investir no património vivo que ainda pulsa nas aldeias de Trás-os-Montes.