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Biofertilizantes de Algas Marinhas Impulsionam Agricultura Sustentável em Portugal

Startups costeiras, equipas da FCUP e multinacionais como a Asfertglobal convertem sargaço e moliço de praias em fertilizantes ecológicos, fortalecendo solos, reduzindo resíduos costeiros e promovendo cadeias de valor para agricultores em Santarém, Viana do Castelo e Azeitão.

Mariana Duarte Coelho Mariana Duarte Coelho Jornalista de Viagens, Lifestyle, Entretenimento e Esportes | Porttugal
3 Minutos
2025-06-19 09:28:00
Biofertilizantes de Algas Marinhas Impulsionam Agricultura Sustentável em Portugal

Da tradição ancestral ao desafio moderno

Em Portugal, a prática de usar algas marinhas como fertilizante remonta ao século XIV, com o “moliço” da Ria de Aveiro e o “sargaço” das costas do Norte a alimentar solos arenosos e a impulsionar culturas de batata e cereais junto ao mar. Entretanto, o fenómeno do sargaço intensificou-se: as alterações climáticas, o aumento da temperatura do mar e a carga de azoto nos cursos de água exacerbaram as acumulações nas praias, transformando um recurso tradicional num problema ecológico e sanitário para municípios costeiros. A decomposição in situ destes excedentes gera gases odoríferos e contamina bactérias locais, forçando o seu encaminhamento para aterros ou deposição em locais de difícil gestão.

Projetos pioneiros em Portugal

Perante este contexto, emergem iniciativas que convertem o sargaço num ativo valioso para a agricultura sustentável. Na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e no GreenUPorto – Centro de Investigação em Produção Agroalimentar Sustentável, a investigadora Maria Martins e a docente Fernanda Fidalgo lideram um projecto que avalia o potencial do sargaço como biofertilizante e bioestimulante, capaz de reduzir a bioacumulação de cobre em cevada, graças ao seu teor em potássio, cálcio e compostos fenólicos. Os primeiros ensaios de germinação e crescimento revelaram ganhos de biomassa até 15% em comparação com solos não tratados, abrindo caminho a aplicações comerciais.

Enquanto isso, a Asfertglobal, multinacional portuguesa sediada em Várzea, Santarém, dedica-se há mais de uma década ao desenvolvimento de soluções biotecnológicas para a agricultura, incluindo biofertilizantes à base de extrato de algas marinhas e microrganismos benéficos. Na Fruit Attraction 2022, apresentou a linha Kiplant Awaken, que alia extrato de Ascophyllum nodosum a bioestimulantes, promovendo floração e enraizamento em hortofrutícolas. Em Azeitão, o seu Departamento de I&D testou o produto Cuperdem PT num olival de sequeiro, registando aumento de 12% na produção de azeitona e melhoria da qualidade do óleo atestada pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV).

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Para garantir fornecimento contínuo de matéria-prima, o projeto Vertical Algas da Universidade de Aveiro (UA) estabeleceu parcerias com cooperativas costeiras para cultivar Laminaria ochroleuca e Saccharina latissima em sistemas integrados de aquacultura, exportando hoje mais de 75% da produção para mercados europeus. Estas biotecnologias permitem transformar algas invasoras, colhidas em praias de Apúlia (Viana do Castelo) e Carvoeiro (Algarve), em extratos concentrados, reduzindo o impacto nos ecossistemas litorais.

Adicionalmente, o grupo operacional EGIS – Estratégias para a Gestão Sustentável do Solo e da Água em Espécies Produtoras de Frutos Secos –, com base em Mirandela, integra extratos de algas em ensaios de amendoal de sequeiro no interior norte, comprovando efeitos sinérgicos na retenção hídrica do solo e na resistência da cultura à seca. Essa colaboração entre académicos e agricultores reforça uma abordagem circular, em que um resíduo costeiro se converte num recurso de alto valor agronómico.

Impacto ambiental e futuro

A adoção destes biofertilizantes de algas marinhas traz múltiplos benefícios. Ambientalmente, diminui o volume de resíduos orgânicos em aterros e a emissão de gases de decomposição nas praias, contribuindo para a qualidade de vida das populações costeiras. Em termos agrícolas, fortalece o microbioma do solo, melhora a estrutura edáfica e reduz a dependência de fertilizantes sintéticos, cuja lixiviação polui aquíferos e desencadeia florações tóxicas em zonas húmidas.

Economicamente, novos nichos de mercado geram emprego em Santarém, Viana do Castelo e Porto, da apanha e processamento ao fabrico e comercialização dos biofertilizantes. O produtor Afonso Batista, do Cadaval, destaca ganhos de produtividade e redução de custos com adubos convencionais, estimando poupanças superiores a 20% no seu pomar de pereiras após a adoção dos produtos Asfertglobal.

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Para potenciar estas cadeias de valor, organismos como a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) e o INIAV avaliam normas para homologação de biofertilizantes de algas, garantindo segurança alimentar e rastreabilidade. O Horizonte Europa e o Pacto da Bioeconomia Azul financiam programas de investigação que visam a escalabilidade das unidades de biorrefinaria costeiras até 2030, com vista a reduzir a pegada ecológica e reforçar a soberania alimentar.

Com sinergias entre academia, indústria e poderes públicos, Portugal posiciona-se como referência na bioeconomia azul, demonstrando que o resgate de práticas ancestrais, aliado a tecnologias inovadoras, pode convergir num modelo sustentável e lucrativo para o futuro.