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Condomínios em Portugal aproveitam águas da chuva para cortar custos e reforçar sustentabilidade

Instalação de cisternas e sistemas de reaproveitamento pluvial conta com incentivos do PNEC 2030 e normas técnicas para usos não potáveis, beneficiando moradores e meio ambiente.

Mariana Duarte Coelho Mariana Duarte Coelho Jornalista de Viagens, Lifestyle, Entretenimento e Esportes | Porttugal
6 Minutos
2025-06-18 16:34:00
Condomínios em Portugal aproveitam águas da chuva para cortar custos e reforçar sustentabilidade

Condomínios a Celebrar a Chuva: Como a Água Pluvial Se Torna Ouro Líquido em Portugal

Desde janeiro de 2025, assiste-se a uma verdadeira revolução silenciosa nos bairros e vilas de Portugal: dezenas de condomínios, de Norte a Sul, descobriram que a água da chuva é um recurso valioso que pode transformar a vida dos moradores, reduzir custos e promover práticas de sustentabilidade. Foi a Resolução da Assembleia da República n.º 127/2025, aprovada a 10 de abril, que abriu oficialmente as portas à captação e uso de águas pluviais em contextos urbanos, quebrando o monopólio da EPAL e de outras entidades públicas de abastecimento e dando poder aos condóminos de gerir o próprio recurso hídrico.

De Lisboa ao Gerês: histórias de quem já colheu os frutos da chuva Em Lisboa, no condomínio Parque das Nações, o síndico Carlos Matos liderou a instalação de três cisternas de 8 000 litros cada – num investimento total de 16 500 € – que, em apenas quatro meses, renderam uma poupança de 2 100 € só nas descargas dos autoclismos. Já na Foz do Douro, um emblemático prédio de 45 fogos, gerido pela administradora Costa & Silva, viu a despesa com água cair 38% em 2024, o equivalente a 3 500 € de economia anual. Em Gaia, o Condomínio Vale do Rio implementou um sistema de filtragem em parceria com a startup lisboeta Aguazero, retendo 92% das partículas de poluentes e garantindo água limpa para a rega dos jardins.

No Gerês, o aldeamento turístico Casas da Quintandona, nos arredores de Terras do Bouro, instalou quatro tanques subterrâneos, com capacidade total de 12 000 litros, que abastecem as sanitárias dos hóspedes e irrigam as hortas comunitárias. O empresário local, António Filipe, partilha que, desde a primavera de 2025, a conta de água reduziu em cerca de 55%, poupando 4 200 € num curso de três meses e atraindo elogios nos portais de turismo rural.

Base técnica e investigação de ponta Todas estas iniciativas apoiam-se na norma NBR 15527:2013, implementada em Portugal pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). Foi precisamente esta norma que fundamentou a dissertação de Marta Pereira, engenheira civil e investigadora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), a qual demonstrou que filtros de carvão ativado e areia – recomendados para zonas como Vale de Cambra, Mortágua e Castelo Branco – removem 95% dos resíduos sólidos e 85% das bactérias comuns em águas pluviais. Complementarmente, o principal estudo do Instituto Superior Técnico (IST) de 2024 simula ganhos médios de 45% na poupança de água, considerando diferentes padrões pluviométricos em Lisboa, Porto e Faro.

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O Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água (PNUEA), em vigor desde 2005, fornece as linhas estratégicas para o aproveitamento de águas não potáveis, como descargas sanitárias e rega de relvados. Mais recentemente, o Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC 2030) definiu metas ambiciosas: reutilizar 30% das águas pluviais em edifícios residenciais até 2027 e reduzir em 20% o consumo global de água potável por habitante até 2030.

Os números não enganam Em Lisboa, o condomínio Solar de Santa Engrácia, com 90 fogos, reduziu em 2 500 € anuais a fatura da EPAL graças a 8 000 litros de água reaproveitada, correspondendo a 42% de poupança. No distrito da Guarda, em Gouveia, o condomínio Rua das Termas instalou duas cisternas de 7 000 litros cada que evitaram três racionamentos em 2024, garantindo autonomia a 70 famílias e poupando 60 m³ de água potável.

De acordo com o Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), cada litro de água pluvial utilizado evita aproximadamente 0,45 kg de CO₂ ligado ao tratamento e bombeamento de água da rede pública. Sendo a pegada hídrica um dos principais indicadores ambientais, estes sistemas contribuem de forma decisiva para as metas de redução de emissões do PNEC 2030.

Sustentabilidade além da poupança: impacto social e patrimonial Para além do alívio orçamental, a instalação de cisternas reforça a resiliência das comunidades face a secas e racionamentos. Em Bragança, no condomínio Solar da Arribas, a Câmara Municipal financiou 70% do projeto de instalação de seis tanques de betão impermeabilizado, geridos pela CCDR-N. Foi graças a este piloto que, durante o verão de 2024, mais de 150 moradores não sentiram cortes no fornecimento, algo inédito num concelho com histórico de limitações hídricas.

Economicamente, condomínios com autoconsumo pluvial valorizam-se no mercado imobiliário: relatórios da consultora CBRE revelam que edifícios com certificações de eficiência hídrica podem alcançar preços de venda até 5% superiores aos comuns. Em termos sociais, surgem iniciativas de voluntariado e formação: a Associação Portuguesa de Engenharia Sanitária e Ambiental (APESB) tem promovido oficinas práticas em Lisboa, Porto e Coimbra, com mais de 200 síndicos formados entre 2023 e 2025.

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Obstáculos e soluções à vista Nem tudo são águas calmas: o custo inicial de implementação varia entre 12 000 € e 20 000 € por condomínio, dependendo da capacidade dos tanques e da tecnologia de filtragem. A burocracia também se faz sentir: é obrigatório obter pareceres da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) e cumprir normas de construção, sujeitando-se a vistorias anuais.

Para superar estas barreiras, a Câmara de Loulé, no Algarve, mostra o caminho. Depois de testar um sistema de reaproveitamento de água de piscinas em 2023, o município lançou um concurso público que atribui subsídios de até 70%, reduzindo o investimento para cerca de 5 000 € por sistema. Além disso, várias câmaras – Lisboa, Porto, Coimbra, Faro e Leiria – preparam regulamentos que oferecem reduções no IMI e nas taxas de licença camarária.

Formação e certificação: a próxima onda Apesar de o interesse crescer, apenas 15% dos síndicos e administradores de condomínios frequentaram cursos especializados no IST, no Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) ou em workshops da APESB. Para inverter o défice de conhecimento, as universidades lançaram programas de formação contínua b-learning, com módulos sobre manutenção de sistemas pluviais, dimensionamento hidráulico e legislação.

Em paralelo, discute-se na Assembleia Municipal do Porto a criação da certificação "Condomínio Azul", que ateste práticas de poupança hídrica e conceda selos de qualidade a edifícios com metas anuais de reutilização. O objetivo é que, até 2027, pelo menos 15% dos grandes blocos residenciais em Lisboa, Porto, Coimbra e Faro ostentem esta distinção, incentivando uma cultura de consumo responsável.

O compromisso com as novas gerações Para João Sousa, síndico do Solar de Santa Engrácia, "isto não é apenas uma questão económica: é um compromisso com as futuras gerações e com a preservação dos recursos naturais do nosso país". A visão partilhada por Carlos Matos, em Lisboa: "Cada gota que captamos é um passo para educar os nossos filhos sobre a importância da água e do ambiente".

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Em terra de escassez hídrica, a celebração da chuva deixou de ser mero simbolismo e tornou-se ação coletiva. À medida que normas como a NBR 15527, apoios do PNEC 2030 e esforços das câmaras municipais se alinham, os condomínios portugueses dão um passo firme rumo a um futuro mais sustentável, autónomo e resiliente.

Pontos de contacto:

  • Marta Pereira, Eng. Civil, LNEC / FCTUC

    Carlos Matos, Síndico do Parque das Nações, Lisboa

    João Sousa, Síndico do Solar de Santa Engrácia, Lisboa

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    CCDR-N (ccdr-n.pt)

    PNEC 2030 (pnec2030.gov.pt)