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Crianças Portuguesas Já Sentem Medo do Futuro por Causa das Alterações Climáticas

Psicólogos, educadores e famílias em Portugal relatam o crescimento da chamada eco-ansiedade infantil, um fenómeno crescente que já afecta o bem-estar de crianças e adolescentes.

Sofia Ribeiro Almeida Sofia Ribeiro Almeida Jornalista de Tecnologia, Ciência, Saúde, Meio Ambiente e Clima | Porttugal
9 Minutos
2025-05-22 13:05:00
Crianças Portuguesas Já Sentem Medo do Futuro por Causa das Alterações Climáticas

"Tenho medo que não haja planeta quando for adulta"

Em Vila Nova de Gaia, Maria, uma menina de 10 anos, recusa-se a jogar plástico no lixo comum e chora sempre que ouve notícias sobre incêndios ou derretimento de calotas polares. "Tenho medo que não haja planeta quando eu for adulta", diz, com os olhos humedecidos e voz entrecortada.

Maria não está sozinha. Em várias escolas básicas de Braga, Faro, Coimbra e Évora, psicólogos escolares relatam o crescimento de um tipo particular de ansiedade infantil ligada às alterações climáticas. O termo técnico é eco-ansiedade — uma preocupação crónica e, muitas vezes, debilitante, com relação ao futuro ambiental do planeta.

A psicóloga Ana Filipa Mendes, que trabalha com crianças entre os 8 e 14 anos em Leiria, afirma: "Nos últimos três anos, tenho visto um aumento claro de casos em que os miúdos relatam medo do futuro, crise climática e a ideia de que não vão viver tanto como os pais". Para ela, o aumento de acesso a conteúdos ambientais nas redes sociais, mesmo por crianças pequenas, está a ter um impacto emocional profundo.

Um fenômeno silencioso e pouco estudado em Portugal

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Em Portugal, ainda são raros os estudos formais sobre eco-ansiedade em populações jovens. Contudo, um inquérito informal conduzido pela Universidade do Minho em 2023 junto de 400 alunos do 2.º e 3.º ciclos revelou que 61% dos entrevistados já se sentiram "tristes ou com medo" ao ver notícias sobre o clima. Entre os mais velhos, dos 15 aos 18 anos, o número sobe para 74%.

A professora Helena Barros, coordenadora do inquérito, salienta que muitos dos estudantes relatam sonhos angustiantes com inundações, fogo e desertos. "Há uma geração que não vê o futuro com os olhos que nós víamos há 30 anos. A esperança está a ser substituída pelo receio existencial."

Em Lisboa, o Centro de Psicologia do Desenvolvimento Integrado (CPDI) começou a incluir o tema ambiental nas suas avaliações clínicas de adolescentes. "Vemos sintomas como insónia, pensamentos obsessivos sobre catástrofes e um sentimento de impotência face à crise climática", explica Joana Costa, psicoterapeuta infantil.

Mas a eco-ansiedade não é apenas um sintoma negativo. Vários especialistas consideram que, quando bem orientada, esta angústia pode gerar consciência, responsabilidade e acção. "Transformar medo em acção é a chave", defende Miguel Ferreira, fundador do projecto ambiental Plantar o Amanhã, que actua em escolas de Aveiro e Viseu.

"Não queremos miúdos traumatizados com o futuro, mas também não queremos uma infância alienada do que se passa no planeta", afirma. "O que falta é educação emocional ligada ao ambiente."

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A direcção-geral da Educação afirma estar a preparar novas orientações para integrar temas de sustentabilidade emocional nas aulas de cidadania, em colaboração com instituições como a Universidade de Lisboa e a Associação Portuguesa de Psicologia Ambiental.

Enquanto isso, em aldeias como Vilar de Besteiros (Tondela) ou Pias (Serpa), onde as escolas ainda têm hortas pedagógicas, professores relatam menor incidência de eco-ansiedade. "Eles aprendem que podem fazer algo. Vêm nascer uma flor, colher um tomate, cuidar de uma galinha. Isso dá sentido e tranquiliza", diz a professora Rosa Pinto.

Mas para muitas crianças urbanas, o futuro continua enevoado.