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Oceano a mudar de cor: derretimento do gelo altera tons e preocupa cientistas

Mais de metade dos oceanos está a ficar verde devido ao degelo acelerado e alterações climáticas, afectando ecossistemas marinhos e o equilíbrio global.

Sofia Ribeiro Almeida Sofia Ribeiro Almeida Jornalista de Tecnologia, Ciência, Saúde, Meio Ambiente e Clima | Porttugal
7 Minutos
2025-05-16 16:24:00
Oceano a mudar de cor: derretimento do gelo altera tons e preocupa cientistas

Já não é apenas metáfora quando se diz que os oceanos estão a mudar. Literalmente, estão. E não é só no modo como os navegamos ou exploramos os seus recursos, mas na sua própria cor. O azul profundo, que durante séculos foi sinónimo da vastidão e do mistério marítimo, está a dar lugar a tons cada vez mais esverdeados em várias partes do globo. E os cientistas não estão nada descansados com o que estes sinais significam.

Um estudo publicado pela equipa do Goddard Space Flight Center da NASA, liderado pela investigadora B. B. Cael, revelou que mais de 56% da superfície oceânica do planeta mudou de cor nos últimos 20 anos. A análise foi feita com base em medições por satélite entre 2002 e 2022, e os dados mais expressivos apontam para alterações significativas em regiões próximas ao Equador, onde a actividade biológica é particularmente sensível às mudanças climáticas.

Para a Dra. Leonor Ferreira, bióloga marinha da Universidade do Algarve, o fenómeno é "um reflexo claro da desregulação dos sistemas naturais do planeta". Segundo a investigadora, o aumento do degelo nas calotas polares — particularmente no Ártico e na Antártida — está a introduzir volumes crescentes de água doce nos oceanos. Esta alteração na salinidade e temperatura das águas está a afectar de forma directa a abundância e a distribuição do fitoplâncton, os microscópicos organismos vegetais que não só alimentam todo o ecossistema marinho, como também influenciam a cor das águas devido aos seus pigmentos fotossintéticos.

Apesar de à primeira vista parecer positivo haver mais fitoplâncton, a verdade é que o aumento não é homogéneo nem equilibrado. O Instituto Hidrográfico da Marinha Portuguesa publicou recentemente um relatório onde refere que, em algumas zonas costeiras do Atlântico Norte, as florações intensas de fitoplâncton estão associadas a eventos de marés vermelhas e a descidas abruptas nos níveis de oxigénio, provocando mortalidade em massa de peixes e moluscos.

A situação é preocupante não só do ponto de vista ecológico, mas também económico. Em comunidades costeiras como a de Peniche ou Sesimbra, onde a pesca artesanal ainda é o sustento de muitas famílias, estas alterações estão a colocar em causa a estabilidade dos ecossistemas e, por consequência, a viabilidade da actividade piscatória.

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Mais ainda, o degelo tem um impacto directo na acidificação dos oceanos. A água doce, ao misturar-se com a água salgada, altera o pH dos mares, tornando-os mais ácidos. Isto afecta organismos como os corais, ostras e mexilhões, que dependem do cálcio para formar as suas conchas e estruturas. Um estudo recente da Universidade de Aveiro indica que, desde o início do século XXI, o pH médio do Oceano Atlântico baixou em 0,1 unidades — uma mudança aparentemente pequena, mas com consequências dramáticas para a vida marinha.

No plano internacional, a ONU, através do seu programa para os oceanos (UNEP), já alertou que esta tendência pode comprometer os serviços ecossistémicos que os oceanos nos prestam: absorção de carbono, regulação do clima, pesca, e até mesmo o turismo costeiro. Programas como o "Decade of Ocean Science for Sustainable Development", lançado em 2021, visam coordenar esforços científicos e políticos para inverter esta trajectória.

Os especialistas são unânimes: é urgente reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, proteger as zonas costeiras e investir na transição energética. Como lembra o oceanógrafo Pedro Madureira, da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental, "o oceano é o nosso maior aliado contra as alterações climáticas, mas também o mais vulnerável se nada for feito".

Num país como Portugal, com mais de 900 quilómetros de costa e uma história profundamente ligada ao mar, é fundamental olhar para estas mudanças com olhos de ver. O que está em causa não é apenas a tonalidade do oceano, mas o equilíbrio delicado de todo um planeta que, de tantas maneiras, depende das suas águas.