Durante a madrugada de 13 de junho de 2025, pouco passava da uma e meia quando os radares de defesa aérea iranianos captaram um enxame de drones stealth a sobrevoar Teerão. A capital tremia ao som de explosões controladas, cujo eco chegou a distritos periféricos como Shemiran e Rey. A Operação “Leão Rugente” — delineada ao mais ínfimo pormenor pelo Conselho de Segurança Nacional de Israel — visou as instalações nucleares de Natanz, Isfahan e Karaj, bem como depósitos subterrâneos de urânio empobrecido próximos de Qom. Fontes do Mossad revelam que, no total, foram destruídos mais de 120 alvos: 45 centrífugas de última geração, três túneis de enriquecimento de baixo perfil e dois bunkers de comando em profundidade. Este ataque preventivo, classificado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu como “o mais significativo desde Osirak (1981)”, seguiu uma doutrina de defesa antecipada que tem vindo a consolidar-se desde a Guerra do Golfo, quando Israel neutralizou o reator iraquiano de Osirak, e confirmou-se em 2007, com a destruição do complexo sírio de Dimas, perto de Damasco.
O general Aviv Kohavi, chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel (IDF), apontou que o principal objetivo era atrasar em pelo menos dois anos a capacidade iraniana de produzir urânio enriquecido a 90%. Este nível crítico, garantem analistas do Institute for National Security Studies (INSS) de Telavive, permitiria ao Irão obter material suficiente para uma ogiva em cerca de seis meses, caso o enriquecimento não fosse travado. Já o think tank britânico Chatham House estima que, antes deste ataque, o programa nuclear iraniano contava com cerca de 6.000 centrífugas ativas, um aumento de 30% em relação a 2023.
Para o povo iraniano, que sofre há décadas sob sanções económicas e restrições energéticas, o tremor de destruição reacendeu memórias da “Guerra Imaginária” — o atentado israelita à embaixada iraniana em 2018 — e provocou uma onda de pânico em Teerão, onde dezenas de milhares de cidadãos se refugiaram em abrigos subterrâneos. O presidente Ebrahim Raisi condenou o ataque como “ato de barbárie” e prometeu uma resposta proporcional, lançando duras críticas ao «imperialismo sionista» em discursos transmitidos pela IRIB (Islamic Republic of Iran Broadcasting).
Escalada militar e impacto humano
Menos de 24 horas após o ataque israelita, várias baterias de mísseis balísticos Sejjil e Fateh-110 partiram do deserto de Lut, em Kermãn, em direcção ao Negev. Em Beersheva, um Sejjil de alcance médio colidiu com o Hospital Soroka, na ala pediátrica, ferindo 57 crianças com queimaduras de segundo grau e sintomas de intoxicação por fumos tóxicos. A Cruz Vermelha de Israel registou que 12 casos eram críticos, com vítimas a necessitarem de transfusões de plasma e tratamento intensivo no centro médico de Ashkelon.
Enquanto isso, em Jerusalém, sirenes ecoavam às 03h40, forçando escolas como a Yehuda HaMaccabi a interromper aulas. Resultado: 230 alunos foram evacuados e acolhidos em centros comunitários, segundo relatório da Autoridade de Emergência de Israel. Por seu turno, o Irão lançou ataques cibernéticos coordenados contra o sistema radar da Força Aérea israelita. De acordo com o CyberPeace Institute, registaram-se 3.200 tentativas de intrusão apenas no dia 14 de junho, algumas das quais conseguiram desativar radares de curto alcance em Ramat David e Palmachim por períodos de até 15 minutos.
Também houve relatos de drones suicidas enviados contra a usina de dessalinização de Ashdod, ameaçando a distribuição de água potável a mais de 300.000 habitantes do Sul de Israel. A electricidade falhou em Tel Aviv durante 45 minutos devido a ciberataques a subestações geridas pela companhia IEC (Israel Electric Corporation), forçando restaurantes e centros comerciais a suspenderem as operações.
Reações diplomáticas e mediação europeia
Enquanto as munições caiam no Médio Oriente, Bruxelas acelerou esforços de contenção. Nos dias 16 e 17 de junho, em Genebra, Abbas Araghchi, ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, reuniu-se com Josep Borrell, Annalena Baerbock (Alemanha) e Catherine Colonna (França). A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) propôs reforçar inspeções em Natanz, utilizando equipamentos desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Física Nuclear de Itália (INFN) e pelo Laboratoire National Henri Becquerel, em França. Um relatório da AIEA, datado de 10 de junho, indicava um aumento de 20% no stock de hexafluoreto de urânio do Irão desde o início de 2024.
Paralelamente, o Parlamento Europeu emitiu uma resolução não vinculativa, que urge a UE a criar um “mecanismo de filtro” para o comportamento iraniano, apelando a sanções sectoriais sobre o setor automóvel — vital para cidades como Tabriz e Shiraz — caso Teerão rejeite novos inspectores.
Mesmo assim, sem um claro comprometimento de Washington, os analistas duvidam da eficácia do plano. Fontes no Departamento de Estado adiantam que o presidente Joe Biden pondera uma resposta simbólica — como um pacote de sanções financeiras adicionais contra o Banco Central do Irão — mas evita, para já, o envolvimento militar direto. Em Lisboa, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, recordou que “o diálogo é fundamental”, mas admitiu que a aliança não poderia ficar de braços cruzados se a situação degenerar num conflito total.
Perspetivas e cenários futuros
Com o relógio a marcar cada segundo, a Casa Branca avalia a hipótese de enviar mais cinco caças F-35 para a base de Ramon, no Negev, enquanto o CENTCOM em Tampa mantém 25 navios de guerra no Estreito de Ormuz, incluindo o USS Cole e o USS Dwight D. Eisenhower. Esta demonstração de poder visa dissuadir qualquer ataque iraniano a navios mercantes, numa rota por onde circulam 30% do tráfego petrolífero mundial.
No Líbano, o Hezbollah reforçou posições perto da fronteira, mobilizando até 2.500 combatentes, segundo o Ministério da Defesa libanês. No Iraque, facções pró-iranianas organizaram protestos em Bagdade, bloqueando rodovias perto de Al Kut e Diyala. Todavia, um estudo do Atlantic Council, publicado a 15 de junho, conclui que as capacidades destas milícias estão 40% abaixo dos níveis de 2019, devido às sanções e dificuldades logísticas.
Para Portugal, observador atento e membro da UE e da NATO, esta crise realça a importância de manter canais diplomáticos abertos. O Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) estima que um conflito em larga escala poderia aumentar o preço do barril de Brent para 130 dólares, afetando a nossa fatura energética em mais de 15% até ao final de 2025.
Ficar à espera de um milagre não chega: urge reforçar os mecanismos de mediação, apoiar as missões de paz da ONU e incentivar o diálogo cultural entre judeus e muçulmanos, desde as Universidade Nova de Lisboa ao Centro de Estudos Árabes da Universidade de Évora. Só assim, com voz firme e persistência, poderemos evitar que as próximas páginas da história no Médio Oriente sejam escritas a ferros.
Fé e Interpretação: a Perspetiva Divina em Tempos Modernos
Nem só de projéteis vive este confronto: a dimensão espiritual mantém-se viva nas ruas. Em Jerusalém, o rabino David Lau, ‘Ashkenazi Chief Rabbi’ de Israel, percorreu sinagogas no bairro de Mea Shearim para ler salmos de protecção, enquanto, em Qom, o aiatola Sadeq Larijani multiplicava sermões na IRIB, citando passagens do Livro de Ester para demonstrar que a fé pode transcender o medo.
Inquéritos do Instituto Peres para a Paz apontam que 68% dos israelitas acreditam que o sucesso de Israel se apoia em valores históricos e divinos. No Irão, sondagens do Centro Iraniano de Estudos Estratégicos revelam que 54% veem o confronto como um “teste de fé coletiva”, e 42% apoiam campanhas de angariação de fundos para as famílias dos militares.
Enquanto isso, organizações como a Friends of the Earth Middle East e o Centro de Estudos Inter-Religiosos de Amã promovem diálogos online entre imãs, rabinos e académicos do King’s College London, para apelar à responsabilidade e à tolerância. A convicção é unânime: sem um pacto que combine diplomacia, fiscalização rigorosa e um sentimento de comunidade humana, o risco de uma catástrofe — militar, social e moral — permanecerá elevado.
A tradição judaico-cristã contém passagens que muitos crentes associam aos tempos de conflito no fim dos tempos, como o Livro de Joel (capítulo 3), que fala de nações reunidas para a batalha em Vale de Josafá, ou as visões de Ezequiel (capítulo 38), que descrevem um ataque de potências do norte contra Israel. Embora a maioria dos estudiosos considere estes textos como metáforas históricas ou profecias de caráter simbólico, figuras influentes como o rabino Jonathan Sacks (falecido em 2020) exploraram a ideia de que tais passagens refletem ciclos de tensão entre Israel e seus vizinhos. No mundo xiita, comentaristas do Alcorão e hadiths também referem batalhas futuras antes do Dia do Juízo, ainda que não apontem especificamente para o Irão.
No terreno prático, essa leitura tem impacto sobretudo na retaguarda: 23% dos israelitas inquiridos pelo Instituto Peres acreditam ver nalgumas das profecias de Ezequiel um paralelo com as atuais hostilidades, enquanto 19% dos iranianos, segundo levantamento do Centro Iraniano de Estudos Estratégicos, relacionam-nas a sermões apocalípticos proferidos em Qom. Porém, a esmagadora maioria dos líderes políticos e militares de ambos os países rejeita a ideia de um guião sagrado para a guerra moderna, confiando antes em análises geopolíticas e estratégicas do presente.