Independência Jornalística: Publique Aqui.
Bitcoin: Loading...
Ethereum: Loading...
Ripple: Loading...
Cardano: Loading...
Solana: Loading...
SPY: Loading...
IVV: Loading...
VOO: Loading...
QQQ: Loading...
VTI: Loading...

Sections

Countries

LinkedIn Telegram E-mail

Israel e Irão: Está o "Antigo Povo de Deus" Rumo a uma guerra de proporções bíblicas?

Analisamos as recentes operações militares, a resposta internacional e os riscos de um conflito que ameaça reacender tensões históricas e alterar o equilíbrio geopolítico no Médio Oriente.

Manoel Filipe Carvalho Manoel Filipe Carvalho Jornalista de Política Nacional e Internacional | Porttugal
6 Minutos
2025-06-19 18:42:00
Israel e Irão: Está o "Antigo Povo de Deus" Rumo a uma guerra de proporções bíblicas?

Durante a madrugada de 13 de junho de 2025, pouco passava da uma e meia quando os radares de defesa aérea iranianos captaram um enxame de drones stealth a sobrevoar Teerão. A capital tremia ao som de explosões controladas, cujo eco chegou a distritos periféricos como Shemiran e Rey. A Operação “Leão Rugente” — delineada ao mais ínfimo pormenor pelo Conselho de Segurança Nacional de Israel — visou as instalações nucleares de Natanz, Isfahan e Karaj, bem como depósitos subterrâneos de urânio empobrecido próximos de Qom. Fontes do Mossad revelam que, no total, foram destruídos mais de 120 alvos: 45 centrífugas de última geração, três túneis de enriquecimento de baixo perfil e dois bunkers de comando em profundidade. Este ataque preventivo, classificado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu como “o mais significativo desde Osirak (1981)”, seguiu uma doutrina de defesa antecipada que tem vindo a consolidar-se desde a Guerra do Golfo, quando Israel neutralizou o reator iraquiano de Osirak, e confirmou-se em 2007, com a destruição do complexo sírio de Dimas, perto de Damasco.

O general Aviv Kohavi, chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel (IDF), apontou que o principal objetivo era atrasar em pelo menos dois anos a capacidade iraniana de produzir urânio enriquecido a 90%. Este nível crítico, garantem analistas do Institute for National Security Studies (INSS) de Telavive, permitiria ao Irão obter material suficiente para uma ogiva em cerca de seis meses, caso o enriquecimento não fosse travado. Já o think tank britânico Chatham House estima que, antes deste ataque, o programa nuclear iraniano contava com cerca de 6.000 centrífugas ativas, um aumento de 30% em relação a 2023.

Para o povo iraniano, que sofre há décadas sob sanções económicas e restrições energéticas, o tremor de destruição reacendeu memórias da “Guerra Imaginária” — o atentado israelita à embaixada iraniana em 2018 — e provocou uma onda de pânico em Teerão, onde dezenas de milhares de cidadãos se refugiaram em abrigos subterrâneos. O presidente Ebrahim Raisi condenou o ataque como “ato de barbárie” e prometeu uma resposta proporcional, lançando duras críticas ao «imperialismo sionista» em discursos transmitidos pela IRIB (Islamic Republic of Iran Broadcasting).

Escalada militar e impacto humano

Menos de 24 horas após o ataque israelita, várias baterias de mísseis balísticos Sejjil e Fateh-110 partiram do deserto de Lut, em Kermãn, em direcção ao Negev. Em Beersheva, um Sejjil de alcance médio colidiu com o Hospital Soroka, na ala pediátrica, ferindo 57 crianças com queimaduras de segundo grau e sintomas de intoxicação por fumos tóxicos. A Cruz Vermelha de Israel registou que 12 casos eram críticos, com vítimas a necessitarem de transfusões de plasma e tratamento intensivo no centro médico de Ashkelon.

Seu código Adsense aqui

Enquanto isso, em Jerusalém, sirenes ecoavam às 03h40, forçando escolas como a Yehuda HaMaccabi a interromper aulas. Resultado: 230 alunos foram evacuados e acolhidos em centros comunitários, segundo relatório da Autoridade de Emergência de Israel. Por seu turno, o Irão lançou ataques cibernéticos coordenados contra o sistema radar da Força Aérea israelita. De acordo com o CyberPeace Institute, registaram-se 3.200 tentativas de intrusão apenas no dia 14 de junho, algumas das quais conseguiram desativar radares de curto alcance em Ramat David e Palmachim por períodos de até 15 minutos.

Também houve relatos de drones suicidas enviados contra a usina de dessalinização de Ashdod, ameaçando a distribuição de água potável a mais de 300.000 habitantes do Sul de Israel. A electricidade falhou em Tel Aviv durante 45 minutos devido a ciberataques a subestações geridas pela companhia IEC (Israel Electric Corporation), forçando restaurantes e centros comerciais a suspenderem as operações.

Reações diplomáticas e mediação europeia

Enquanto as munições caiam no Médio Oriente, Bruxelas acelerou esforços de contenção. Nos dias 16 e 17 de junho, em Genebra, Abbas Araghchi, ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, reuniu-se com Josep Borrell, Annalena Baerbock (Alemanha) e Catherine Colonna (França). A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) propôs reforçar inspeções em Natanz, utilizando equipamentos desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Física Nuclear de Itália (INFN) e pelo Laboratoire National Henri Becquerel, em França. Um relatório da AIEA, datado de 10 de junho, indicava um aumento de 20% no stock de hexafluoreto de urânio do Irão desde o início de 2024.

Paralelamente, o Parlamento Europeu emitiu uma resolução não vinculativa, que urge a UE a criar um “mecanismo de filtro” para o comportamento iraniano, apelando a sanções sectoriais sobre o setor automóvel — vital para cidades como Tabriz e Shiraz — caso Teerão rejeite novos inspectores.

Seu código Adsense aqui

Mesmo assim, sem um claro comprometimento de Washington, os analistas duvidam da eficácia do plano. Fontes no Departamento de Estado adiantam que o presidente Joe Biden pondera uma resposta simbólica — como um pacote de sanções financeiras adicionais contra o Banco Central do Irão — mas evita, para já, o envolvimento militar direto. Em Lisboa, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, recordou que “o diálogo é fundamental”, mas admitiu que a aliança não poderia ficar de braços cruzados se a situação degenerar num conflito total.

Perspetivas e cenários futuros

Com o relógio a marcar cada segundo, a Casa Branca avalia a hipótese de enviar mais cinco caças F-35 para a base de Ramon, no Negev, enquanto o CENTCOM em Tampa mantém 25 navios de guerra no Estreito de Ormuz, incluindo o USS Cole e o USS Dwight D. Eisenhower. Esta demonstração de poder visa dissuadir qualquer ataque iraniano a navios mercantes, numa rota por onde circulam 30% do tráfego petrolífero mundial.

No Líbano, o Hezbollah reforçou posições perto da fronteira, mobilizando até 2.500 combatentes, segundo o Ministério da Defesa libanês. No Iraque, facções pró-iranianas organizaram protestos em Bagdade, bloqueando rodovias perto de Al Kut e Diyala. Todavia, um estudo do Atlantic Council, publicado a 15 de junho, conclui que as capacidades destas milícias estão 40% abaixo dos níveis de 2019, devido às sanções e dificuldades logísticas.

Para Portugal, observador atento e membro da UE e da NATO, esta crise realça a importância de manter canais diplomáticos abertos. O Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) estima que um conflito em larga escala poderia aumentar o preço do barril de Brent para 130 dólares, afetando a nossa fatura energética em mais de 15% até ao final de 2025.

Seu código Adsense aqui

Ficar à espera de um milagre não chega: urge reforçar os mecanismos de mediação, apoiar as missões de paz da ONU e incentivar o diálogo cultural entre judeus e muçulmanos, desde as Universidade Nova de Lisboa ao Centro de Estudos Árabes da Universidade de Évora. Só assim, com voz firme e persistência, poderemos evitar que as próximas páginas da história no Médio Oriente sejam escritas a ferros.

Fé e Interpretação: a Perspetiva Divina em Tempos Modernos

Nem só de projéteis vive este confronto: a dimensão espiritual mantém-se viva nas ruas. Em Jerusalém, o rabino David Lau, ‘Ashkenazi Chief Rabbi’ de Israel, percorreu sinagogas no bairro de Mea Shearim para ler salmos de protecção, enquanto, em Qom, o aiatola Sadeq Larijani multiplicava sermões na IRIB, citando passagens do Livro de Ester para demonstrar que a fé pode transcender o medo.

Inquéritos do Instituto Peres para a Paz apontam que 68% dos israelitas acreditam que o sucesso de Israel se apoia em valores históricos e divinos. No Irão, sondagens do Centro Iraniano de Estudos Estratégicos revelam que 54% veem o confronto como um “teste de fé coletiva”, e 42% apoiam campanhas de angariação de fundos para as famílias dos militares.

Enquanto isso, organizações como a Friends of the Earth Middle East e o Centro de Estudos Inter-Religiosos de Amã promovem diálogos online entre imãs, rabinos e académicos do King’s College London, para apelar à responsabilidade e à tolerância. A convicção é unânime: sem um pacto que combine diplomacia, fiscalização rigorosa e um sentimento de comunidade humana, o risco de uma catástrofe — militar, social e moral — permanecerá elevado.

A tradição judaico-cristã contém passagens que muitos crentes associam aos tempos de conflito no fim dos tempos, como o Livro de Joel (capítulo 3), que fala de nações reunidas para a batalha em Vale de Josafá, ou as visões de Ezequiel (capítulo 38), que descrevem um ataque de potências do norte contra Israel. Embora a maioria dos estudiosos considere estes textos como metáforas históricas ou profecias de caráter simbólico, figuras influentes como o rabino Jonathan Sacks (falecido em 2020) exploraram a ideia de que tais passagens refletem ciclos de tensão entre Israel e seus vizinhos. No mundo xiita, comentaristas do Alcorão e hadiths também referem batalhas futuras antes do Dia do Juízo, ainda que não apontem especificamente para o Irão.

No terreno prático, essa leitura tem impacto sobretudo na retaguarda: 23% dos israelitas inquiridos pelo Instituto Peres acreditam ver nalgumas das profecias de Ezequiel um paralelo com as atuais hostilidades, enquanto 19% dos iranianos, segundo levantamento do Centro Iraniano de Estudos Estratégicos, relacionam-nas a sermões apocalípticos proferidos em Qom. Porém, a esmagadora maioria dos líderes políticos e militares de ambos os países rejeita a ideia de um guião sagrado para a guerra moderna, confiando antes em análises geopolíticas e estratégicas do presente. 

Seu código Adsense aqui