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Jovens Adolescentes em Aldeias Isoladas: Como é Crescer no Silêncio e sem oportunidades no Interior de Portugal

Em aldeias com menos de 50 habitantes, jovens enfrentam desafios únicos de isolamento social, acesso limitado à educação e escassez de oportunidades, moldando uma juventude resiliente e esquecida.

Rui Muniz Ferreira Rui Muniz Ferreira Jornalista de Economia e Educação | Porttugal
6 Minutos
2025-05-07 15:52:00
Jovens Adolescentes em Aldeias Isoladas: Como é Crescer no Silêncio e sem oportunidades no Interior de Portugal

No coração do Portugal profundo, há miúdos que crescem entre montes e vales, onde o tempo parece ter ficado esquecido. Em aldeias como Gralhas, encravada na serra de Barroso (Montalegre), ou Rio de Onor, no distrito de Bragança, mesmo ali colada à fronteira com Espanha, vivem menos de meia centena de almas. São lugares onde as conversas ainda se fazem à soleira da porta, mas onde é cada vez mais raro ouvir o riso de uma criança ou os passos apressados de um adolescente a caminho da escola.

Seguindo os dados mais recentes do INE (Instituto Nacional de Estatística), cerca de 60% das freguesias portuguesas perderam população entre 2011 e 2021, sendo o interior norte e centro os mais afectados. Com isto, também se perdem jovens. Segundo um estudo publicado pelo Observatório das Comunidades Rurais, em parceria com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), menos de 2% dos adolescentes portugueses residem em localidades com menos de 100 habitantes.

Viver longe de tudo e de todos

Fábio Rocha, 16 anos, vive em Aldeia Velha, no concelho do Sabugal. A escola secundária mais próxima fica em Belmonte, a 35 quilómetros de casa. Todos os dias, apanha o autocarro às 6h50 da manhã e regressa por volta das 18h30. "Às vezes não me apetece mesmo nada ir, mas sei que tenho de continuar", conta. A mãe, Teresa Rocha, confessa que o filho se sente sozinho, sem amigos por perto e sem nada que o motive além da escola.

A falta de transportes é gritante. Em muitas aldeias, como Covas do Barroso ou Meimoa, os autocarros circulam uma ou duas vezes por dia, quando há. Actividades extracurriculares? "Nem pensar", diz Ana Isabel Matos, professora de História em Idanha-a-Nova, que dá aulas a alunos vindos de mais de 20 aldeias dispersas. "Não há teatros, clubes, nem desporto regular. Tudo é feito à custa de vontade e da família."

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Uma educação feita de ausências

A escassez de recursos é tão evidente quanto preocupante. Além da carência de professores, que preferem as grandes cidades, também há falta de materiais, apoio psicológico e programas de acompanhamento. Uma avaliação realizada pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), em 2023, revelou que mais de 70% das escolas rurais têm estruturas degradadas ou equipamentos desactualizados.

Marta Freitas, socóloga e investigadora do CICS.NOVA da Universidade Nova de Lisboa, sublinha: "Estas crianças estão a crescer num contexto de desigualdade estrutural, sem acesso pleno ao digital, à cultura ou ao apoio que os centros urbanos proporcionam."

Sinais de Esperança entre as ruínas

Nem tudo está perdido. Projectos como o "Aldeias Educadoras", do Município do Fundão, e o "Ser Jovem no Interior", promovido pela CCDRC (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro), têm procurado inverter o rumo. Em Vales do Rio, por exemplo, criou-se uma residência artística escolar onde os jovens produzem documentários sobre a vida local.

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Na aldeia de Mãos, em Vila Pouca de Aguiar, um grupo de voluntários da Associação Terra Jovem dinamiza encontros entre miúdos e idosos, partilhando histórias, receitas e saberes. São laivos de humanidade num espaço onde a ausência pesa.

Olhar para o futuro com olhos de ver

O futuro destas comunidades está dependente de decisões políticas firmes. Não basta falar em coesão territorial sem garantir condições reais para quem vive fora dos grandes centros. Fomentar habitação acessível, criar incentivos à fixação de jovens e profissionais no interior e melhorar a conetividade digital são caminhos possíveis e necessários.

Se nada for feito, Portugal continuará a assistir à morte lenta das suas aldeias. E com elas, à perda de uma geração que nunca teve verdadeira oportunidade de escolha.

 

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