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Cancro em Portugal: Incidência Aumenta 20% até 2040 e Exige Ação Urgente

Com mais de 60 mil novos casos anuais, Portugal enfrenta um aumento preocupante na incidência de cancro, destacando-se nas taxas mais elevadas de cancro pediátrico e gástrico da União Europeia.

Sofia Ribeiro Almeida Sofia Ribeiro Almeida Jornalista de Tecnologia, Ciência, Saúde, Meio Ambiente e Clima | Porttugal
8 Minutos
2025-05-16 12:47:00
Cancro em Portugal: Incidência Aumenta 20% até 2040 e Exige Ação Urgente

Em Portugal, o cancro continua a figurar entre as principais causas de morte, representando um verdadeiro drama social e humano. Estima-se que uma em cada três pessoas venha a desenvolver algum tipo de cancro ao longo da vida. Esta realidade atinge famílias de todas as condições, em todas as regiões, desde o litoral até às aldeias mais recônditas do interior. De acordo com os dados mais recentes do Registo Oncológico Nacional, só em 2021 foram registados 60.717 novos casos da doença, um aumento de 5% face a 2019. Projeções da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) alertam que a incidência poderá crescer 20% até 2040, ultrapassando largamente a média europeia.

Estes números não são apenas estatísticas frias. Por detrás de cada diagnóstico há um rosto, uma família que muda de vida de um dia para o outro. O caso de Helena Lopes, de 54 anos, residente em Viseu, que descobriu um cancro da mama em 2022, é paradigmático. O diagnóstico precoce salvou-lhe a vida, mas o processo de tratamento revelou-se desgastante, emocional e financeiramente. "Foram meses a viver entre o hospital e a cama. Só quem passa por isto sabe o que custa", confessa.

A situação agrava-se quando olhamos para a oncologia pediátrica. Portugal apresenta, actualmente, a taxa mais elevada de cancro infantil da União Europeia: 16 novos casos por cada 100 mil crianças entre os 0 e os 14 anos. Histórias como a de Tomás, um menino de Braga diagnosticado com leucemia linfoblástica aguda aos 9 anos, são cada vez mais frequentes. A associação Acreditar tem feito um trabalho notável no apoio a estas famílias, mas os constrangimentos estruturais persistem, sobretudo fora dos grandes centros hospitalares.

O cancro gástrico continua também a ser uma chaga aberta, particularmente nas regiões Centro e Norte. Portugal regista quase o dobro da incidência média deste tipo de cancro em relação ao resto da Europa. No IPO do Porto, por exemplo, a Dra. Mariana Fonseca, especialista em oncologia digestiva, tem observado um aumento significativo de diagnósticos em fases muito avançadas. "Chegam-nos doentes que, se tivessem sido rastreados um ano antes, poderiam ter evitado cirurgias mutilantes ou mesmo a progressão fatal da doença", alerta a médica.

Apesar de diversas campanhas do Serviço Nacional de Saúde, incluindo programas de vacinação contra o HPV e a hepatite B, os factores de risco continuam fortemente presentes no estilo de vida dos portugueses. Cerca de 53% dos adultos apresentam excesso de peso ou obesidade, o que os torna mais vulneráveis a vários tipos de cancro, como o do cólon, fígado e mama. A dieta rica em carnes processadas, o sedentarismo e o consumo de álcool agravam ainda mais o cenário.

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Ao nível da mortalidade, embora Portugal tenha taxas ligeiramente inferiores à média da UE, o ritmo de redução tem sido demasiado lento. Entre 2011 e 2019, a taxa de mortalidade caiu apenas 1%, contrastando com os 8% de redução registados noutros países europeus. O atraso nos diagnósticos, o subfinanciamento de serviços oncológicos e as listas de espera excessivas são fatores que contribuem para esta estagnação preocupante.

Segundo o relatório "Perfil de Cancro em Portugal 2024", no contexto do programa Algarve 2030, quase 80% dos doentes ultrapassaram, em 2024, os tempos máximos de resposta garantidos para a primeira consulta oncológica. Em regiões como o Alentejo e Trás-os-Montes, o problema é mais grave, devido à carência de especialistas e à centralização dos cuidados em Lisboa, Coimbra e Porto. A história de Dona Eugénia, de 67 anos, que vive em Beja e esperou quatro meses por uma avaliação oncológica, ilustra uma realidade sentida por muitos portugueses.

Para enfrentar este flagelo, é imperativo rever prioridades na política de saúde pública. Não basta falar em rastreio e prevenção — é preciso implementar acções concretas. O reforço do financiamento dos IPOs, a descentralização dos cuidados especializados, o investimento em tecnologia de diagnóstico precoce e a capacitação contínua dos profissionais de saúde são passos essenciais. Além disso, é necessário reforçar campanhas de literacia em saúde, para que os portugueses reconheçam os sinais da doença e procurem ajuda médica atempadamente.

Importa também referir os avanços positivos: a investigação científica em Portugal tem feito progressos. O Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) e o Instituto Gulbenkian de Ciência estão na linha da frente do estudo de terapias inovadoras, incluindo tratamentos imunológicos e de medicina personalizada. Iniciativas como o programa europeu Beating Cancer Plan, do qual Portugal é membro activo, pretendem reduzir significativamente a mortalidade oncológica até 2030.

O combate ao cancro é uma causa nacional. Não se trata apenas de números, mas de garantir que ninguém é deixado para trás. Cada diagnóstico representa uma vida em suspenso, uma urgência que exige respostas céleres, humanas e eficazes. Porque atrás de cada estatística está alguém como Helena, Tomás ou Dona Eugénia. Pessoas reais, com medos, sonhos e famílias — e é por elas que Portugal tem de agir com urgência e determinação.

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