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O Poder da RV na Saúde: Como a Realidade Virtual Está a "Virar do Avesso" a Vida de Doentes Crónicos no País

Centros hospitalares, universidades e startups nacionais apostam em programas imersivos para aliviar dores crónicas e potenciar a reabilitação neurológica, conquistando resultados promissores e abrindo caminho a um futuro mais sustentável para o SNS.

Sofia Ribeiro Almeida Sofia Ribeiro Almeida Jornalista de Tecnologia, Ciência, Saúde, Meio Ambiente e Clima | Porttugal
6 Minutos
2025-06-15 17:36:00
O Poder da RV na Saúde: Como a Realidade Virtual Está a "Virar do Avesso" a Vida de Doentes Crónicos no País

VR e o Alívio da Dor: Histórias do CHUC e Além

No Centro Hospitalar Universitário de Coimbra (CHUC), o serviço de Reabilitação Neurológica chefiado pelo Dr. Pedro Oliveira tem sido palco de transformações inesperadas e profundamente humanas. Maria Almeida, de 52 anos e natural de Lousã, chegava todas as manhãs arrastando o corpo com dor lombar crónica que a impedia até de aceder ao seu pequeno pomar no quintal. Ao calçar o headset Oculus Quest 2, transportava-se para as margens tranquilas da Ria de Aveiro, guiada calorosamente pelo fisioterapeuta Hugo Santos e pela terapeuta ocupacional Inês Correia. O cenário incluía o som das gaivotas e o farfalhar das juncas, criando um refúgio mental onde Maria se sentia encorajada a realizar movimentos que, no mundo real, a faziam contrair-se de dor.

Depois de dez sessões semanais, Maria relata que a intensidade da dor caiu de 7 para 4 numa escala de 0 a 10 — uma redução de cerca de 40 % face aos métodos tradicionais. Lágrimas de alívio misturaram-se com sorrisos quando, no fim de uma das sessões, conseguiu esticar-se sem recorrer a pomadas nem comprimidos. Entre janeiro e março de 2025, 120 utentes do CHUC participaram neste programa imersivo, e os registos internos apontam para uma redução média de 30 % na dor, sem aumento do consumo de analgésicos — dado particularmente relevante num contexto em que, em Portugal, 25 % dos doentes crónicos arrisca dependência a fármacos opiáceos.

«Em entrevistas semiestruturadas, 90 % dos participantes dizem sentir mais motivação para continuar a fisioterapia tradicional e menos ansiedade face às crises de dor», sublinha o Dr. Oliveira. O impacto estendeu-se além da clínica: a Câmara Municipal de Coimbra, através do pelouro da Saúde, reconheceu o projeto como «exemplar» e abriu candidaturas para apoio financeiro a utentes de baixa renda que, de outro modo, não poderiam aceder à tecnologia.

Inovação em Lisboa e no Porto: Do AVC à Quimioterapia

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Em Lisboa, o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto estendeu a sua investigação ao Algarve, no Campus de Gambelas, onde o Prof. Mário Sousa coordenou, em parceria com o Instituto Superior Técnico (IST) e o Hospital de Faro, um programa piloto de realidade aumentada para reabilitação pós-AVC. Entre novembro de 2024 e abril de 2025, 60 pacientes com hemiparesia participaram em sessões diárias de 20 minutos, usando óculos HoloLens 2 para executar tarefas que simulavam atividades quotidianas: virar a torneira num lavatório imaginário ou apanhar uma caneca numa cozinha virtual.

Os resultados, apresentados na conferência VRMed Europe 2025 em Barcelona, mostraram ganhos de mobilidade de até 25 % em seis semanas, face aos métodos convencionais, e diminuição de 20 % no tempo de recuperação de funções motoras finas. «Ver um doente recuperar a capacidade de apanhar uma chávena de café sem derramar foi, para mim, um dos momentos mais gratificantes da carreira», confidencia o Prof. Sousa.

No Hospital de Santa Maria, em Lisboa, o Centro de Estudos em Psicologia e Realidade Virtual (CEPVR) da Universidade de Lisboa lançou um estudo em colaboração com o Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa. Sob a coordenação da Dra. Sofia Ribeiro, 50 doentes oncológicos em tratamento de quimioterapia participaram num programa de distração imersiva que incluía visitas virtuais a monumentos nacionais — do Castelo de São Jorge à Ribeira do Porto — durante as sessões de infusão.

Em dados preliminares, 85 % dos participantes referiu menor ansiedade e 78 % notou uma queda de 30 % no uso de antieméticos. A Dra. Ribeiro realça que «o valor terapêutico excede a simples distração: estamos a treinar o cérebro para reagir de forma diferente a estímulos dolorosos e stressantes». Estes indicadores provocaram o interesse do Núcleo de Estudos Oncológicos da Direção-Geral da Saúde (DGS), que vai avaliar a extensão das práticas VR a unidades regionais em Braga e no Algarve.

Cooperação Público‑Privada no Combate à Dor

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No distrito de Braga, a startup VirtuCare — fundada em 2023 pelo engenheiro biomédico João Sousa, antigo investigador do INEB — emergiu como parceira de várias clínicas e centros de saúde. Em colaboração com o serviço de Reumatologia do Hospital de São Marcos, aplicou um protocolo de 15 minutos diários de realidade virtual combinando jogos interativos no Gerês e sessões de mindfulness com vistas sobre o Rio Douro, junto de 80 pacientes com fibromialgia. «Os utentes relatam um aumento de 60 % na perceção de bem‑estar e uma diminuição de 50 % no uso de analgésicos opiáceos», nota a Dra. Ana Matos, fundadora da Clínica Vitalis, em Vila Nova de Famalicão.

Paralelamente, o Politécnico de Bragança lançou o projeto VR Rural, que distribuiu 150 kits de realidade virtual a centros de saúde do Alto Tâmega, integrando voluntários dos Cursos de Enfermagem e Fisioterapia. Em apenas três meses, registou‑se uma redução global de 25 % no consumo de analgésicos entre 200 utentes idosos, reforçando a componente comunitária: «Vimos famílias inteiras aprenderem a usar os headsets e a partilhar a experiência, criando laços que vão para além da dor», descreve a coordenadora de projeto, Dra. Luísa Fernandes.

Desafios e Oportunidades para a Saúde Portuguesa

Apesar dos êxitos, o caminho é cheio de desafios. Um headset médico custa cerca de 350 €, e a formação de um fisioterapeuta nos protocolos clínicos VR acarreta um investimento de 2 000 €. A integração dos dados produzidos em ambientes virtuais nos sistemas de registo eletrónico do SNS requer adaptações no software e protocolos de interoperabilidade. Além disso, subsistem dúvidas quanto ao retorno económico a médio prazo, embora estudos iniciais apontem para poupanças de 15 % nos custos farmacêuticos e de 20 % nos dias de internamento.

Em abril de 2025, a farmacêutica BIAL anunciou um protocolo de patrocínio para oferecer 200 headsets a unidades do SNS no interior — incluindo o Centro Hospitalar do Médio Tejo, em Tomar, o Hospital do Espírito Santo, em Évora, e o Hospital de São João, no Porto — alargando o acesso destas terapias a mais de 5 000 doentes por ano. A iniciativa, em parceria com a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, prevê também workshops de formação para profissionais de saúde em 10 distritos portugueses.

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Os dados do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), divulgados em abril de 2025, revelam que 38 % da população adulta portuguesa sofre de dor crónica, com custos diretos e indiretos estimados em 1,2 mil milhões de euros anuais. «A realidade virtual não é apenas uma moda passageira: é uma estratégia complementar que pode revolucionar a forma como abordamos a dor crónica», defende o epidemiologista Dr. Luís Carvalho.

Para os próximos anos, a Direção-Geral da Saúde prepara orientações para a certificação de software médico VR, com entrada em vigor prevista para 2026. O objetivo é criar um quadro regulatório que assegure qualidade, segurança e avaliação de eficácia em tempo real, apoiando também centros hospitalares e startups nacionais na certificação dos seus produtos. O cenário idealizado aponta para redes de telereabilitação onde médicos em Lisboa, Porto ou Coimbra possam monitorizar remotamente sessões de VR em aldeias do interior, trazendo cuidados de ponta a quem mais precisa.