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DMAA em Alimentos: Riscos Cardíacos e Regulamentações Globais Alarmam Consumidores

Investigamos como o estimulante sintético 1,3-dimetilamilamina atua no corpo, seus perigos associados a casos de AVC e morte, e por que está envolto em restrições nos Estados Unidos, União Europeia, Mercosul, Ásia e até no Texas.

Sofia Ribeiro Almeida Sofia Ribeiro Almeida Jornalista de Tecnologia, Ciência, Saúde, Meio Ambiente e Clima | Porttugal
6 Minutos
2025-07-06 09:29:00
DMAA em Alimentos: Riscos Cardíacos e Regulamentações Globais Alarmam Consumidores

Na frescura tipicamente húmida de uma manhã no Cávado, a professora universitária Isabel Mendes calça as sapatilhas antes de se enfiar nas margens do rio. Traz consigo um pequeno saco de pó branco — DMAA puro, comprado com risco num site de suplementos estrangeiro. Enquanto o sol teima em romper as nuvens, ela mistura a substância com água, procurando aquele «upgrade» de energia que parecia fugir-lhe durante as aulas tardias na Universidade do Minho. No frasco gasto, lê gravado “1,3-Dimetilamilamina (DMAA)”. Apesar de saber que há vozes da comunidade académica a desaconselhar o uso, Isabel convence-se de que, sem ele, não conseguiria manter o ritmo de trabalho e os treinos de trail ao fim de semana.

Criado pela Eli Lilly na década de 1950 como descongestionante nasal para aliviar os sintomas de rinite alérgica e congestão respiratória, o DMAA ganhou notoriedade em ensaios clínicos conduzidos no Kansas Medical Center entre 1952 e 1960, mas acabou por cair em desuso com o advento de novas classes de fármacos mais seguros, como os anti-histamínicos de segunda geração. Após permanecer no limbo farmacêutico até meados dos anos 80, o composto ressurgiu em 2006 pelas mãos do químico Patrick Arnold, que, inspirado por pesquisas em ervas aromáticas de gerânio, apresentou-o ao mercado de suplementos desportivos sob a marca “Geranamine”. Foi aí que a USP Labs, liderada pelo empreendedor Brian Finan, lançou o icónico Jack3D, distribuído em ginásios e lojas especializadas no Mundial de Musculação de 2008, e a Hi-Tech Pharmaceuticals seguiu o exemplo com campanhas a prometer “explosão de energia em 15 minutos”. Só naquele ano, estimava-se que o mercado global de pré-treinos rondasse os 1,2 mil milhões de euros, dos quais 15% eram atribuídos a produtos com DMAA.

Contudo, por debaixo desta cortina de sucesso comercial, surgiram alertas da comunidade médica. O cardiologista Miguel Oliveira, do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, recorda ter atendido, em 2012, um atleta amador de 28 anos com arritmia grave após ingerir duas doses de Jack3D em corrida de trail: “A descarga adrenérgica foi tão intensa que o coração entrou em descompasso imediato.” Estudos como o do National Institute for Public Health and the Environment (RIVM) da Holanda acompanharam 120 voluntários durante seis meses e relacionaram o uso de DMAA a cinco casos confirmados de AVC hemorrágico e três mortes súbitas por paragem cardíaca entre 2010 e 2015, sobretudo em utilizadores com histórico de hipertensão ou consumo elevado de cafeína.

Em abril de 2013, a FDA norte-americana não hesitou: declarou o DMAA ilegal como ingrediente em suplementos, apreendeu e destruiu lotes de OxyElite Pro — cujo valor ultrapassava os 8 milhões de dólares — e emitiu memorandos a dezenas de fabricantes. Simultaneamente, a Agência Mundial Antidopagem (WADA) incluiu-o na lista de substâncias proibidas em 2010, motivando apelos de prevenção em campeonatos europeus de atletismo.

Na União Europeia, a MHRA do Reino Unido determinou, em agosto de 2012, a retirada imediata do Jack3D das pharmacies, e investigações da Agência Europeia de Segurança Alimentar estimaram que 20% dos suplementos distribuídos online em 2014 continham DMAA não declarado. Irlanda, Finlândia e Suécia avançaram com proibições formais, baseando-se em relatórios de toxicidade aguda emitidos pela Universidade de Helsínquia e pelo Instituto Nacional de Saúde da Irlanda.

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No Brasil, a ANVISA incluiu o DMAA em 2023 na lista de substâncias sujeitas a controlo especial, em resposta a casos documentados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de internações cardíacas em academias do Rio de Janeiro. Na Austrália, a Therapeutic Goods Administration classificou-o no Anexo S10 como veneno proibido, enquanto na Nova Zelândia a Medicines and Medical Devices Safety Authority baniu-o em 2012 depois de o encontrar em “party pills” distribuídas em festivais universitários.

O Estado do Texas, nos EUA, foi além das fronteiras desportivas: o Projeto de Lei SB 25, apelidado de “Make Texas Healthy Again” e aprovado em 22 de junho de 2025, aguarda apenas a assinatura do governador para entrar em vigor em 1 de setembro. Durante as audições públicas em Austin, médicos e nutricionistas expuseram dados do Texas Department of State Health Services que vinculam compostos adrenérgicos a picos de internamentos hospitalares.

Em Portugal, a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) contabilizou 1.200 notificações de suplementos em 2024, mas apenas em quatro casos houve advertências formais por rótulos enganosos — nenhum envolvia especificamente o DMAA, o que ressalta a brecha entre legislação e controlo efetivo. Associações como a DECO têm insistido em auditorias independentes e na criação de um selo nacional de qualidade para produtos desportivos. Entretanto, nos portais de comércio eletrónico, proliferam frascos de Jack3D Advanced e de DMAA em pó genérico, promovidos como “queimadores de gordura” e “aceleradores cognitivos”. Sem certificação, são verdadeiras “bombas-relógio” para quem delas abusa.

O aviso é peremptório: leia com atenção os rótulos, questione promessas de resultados imediatos e privilegie produtos certificados pela DGAV ou selos reconhecidos na União Europeia. A saúde é património de todos e, no caso do DMAA, o risco de pôr em causa esse património supera, em muito, qualquer promessa de energia instantânea.

Nesta série "Perigo Invisível no Prato", vamos informá-lo sobre os riscos que corre ao consumir alimentos com estas substâncias. Segue abaixo uma lista com os 40 ingredientes alimentares que estão na mira do Projeto de Lei 25 (SB 25) do Texas:

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À medida que desvendamos o complexo mundo dos aditivos alimentares, ingrediente a ingrediente, a teia da indústria alimentar começa a revelar os seus segredos. Cada substância analisada não é apenas um nome num rótulo, mas sim um capítulo na história da nossa alimentação, com um propósito específico, um percurso regulatório e, mais importante, potenciais implicações para a nossa saúde.