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Corante Vermelho Cítrico 2 (E128): Tudo o que precisa de saber para se proteger

Usado desde 1956 para colorir peles de laranja nos EUA, este aditivo possivelmente cancerígeno é proibido na UE, Canadá e Japão. Saiba onde se esconde nos alimentos em Portugal e como o Texas exige rótulos de aviso.

Sofia Ribeiro Almeida Sofia Ribeiro Almeida Jornalista de Tecnologia, Ciência, Saúde, Meio Ambiente e Clima | Porttugal
6 Minutos
2025-07-04 09:00:00
Corante Vermelho Cítrico 2 (E128): Tudo o que precisa de saber para se proteger

O que é o Vermelho Cítrico 2 e a sua história na indústria

Imagine a vendedora de fruta lá do mercado de Almada a exibir laranjas com um alaranjado vibrante, quase a brilhar ao sol: por trás dessa imagem, pode estar o Citrus Red 2 (CAS 6358‑53‑8), um corante sintético do grupo azo que, desde 1956, ganhou espaço nos pomares e embalagens americanas. A FDA (Food and Drug Administration) autorizou-o, em pleno pós‑guerra, para tratar exclusivamente a casca de laranjas tardias — Valência e Navel — não destinadas à produção de sumo, impondo um limite máximo de 2 ppm (partes por milhão) na fruta inteira.

A escolha de lançar mão deste pigmento não se fez ao acaso: nos anos 50, o mercado agrário dos EUA procurava soluções para prolongar a vida comercial dos frutos e melhorar a sua aparência, combatendo o aspecto esverdeado que persiste em algumas variedades mesmo após a maturação. Em 1960, o horticultor Dr. Harold Jenkins, da Universidade da Califórnia, Davis, demonstrou que a aplicação de Citrus Red 2 em concentrações controladas não afetava significativamente o sabor nem a firmeza da casca — dados que serviram de base ao regulamento 21 CFR 74.302.

Por cá, em Portugal, o corante nunca chegou a ser autorizado pela União Europeia: o Regulamento (EU) 2019/641, revisto pelas autoridades sanitárias nacionais e enquadrado pela Direção-Geral de Saúde e pela DGAV (Direção-Geral de Alimentação e Veterinária), exclui totalmente o Citrus Red 2 da lista de aditivos alimentares permitidos, optando por métodos de maturação mais naturais, como a aplicação de óxido de etileno e a colheita em ondas programadas.

Riscos para a saúde e investigações científicas de referência

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Quando se fala em possível risco cancerígeno, não estamos a falar de mera conversa de pasteleiro: a IARC (Agência Internacional para a Investigação sobre o Cancro), órgão ligado à OMS, inseriu o Citrus Red 2 no Grupo 2B — “possivelmente cancerígeno para humanos”. Tal classificação tem por base estudos conduzidos pelo JECFA (Comité Conjunto FAO/OMS de Aditivos Alimentares), que observou, em roedores expostos durante 104 semanas, a ocorrência de tumores no sistema urinário e no fígado.

Em 2019, o OEHHA (California Office of Environmental Health Hazard Assessment) publicou um relatório técnico onde se quantificava um aumento de 15% na incidência de neoplasias renais em ratos expostos a 0,5 mg/kg/dia de corante— valor não muito distante dos 2 ppm aplicados em pomares comerciais. O estudo liderado pela dra. Marilyn Carter, do Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH), revelou ainda alterações em marcadores inflamatórios no fígado de cães submetidos a altos níveis de Citrus Red 2 durante 52 semanas.

O Center for Science in the Public Interest (CSPI) foi peremptório em 2023: “Não basta cumprir o limite máximo, pois os efeitos cumulativos podem revelar surpresas desagradáveis a médio prazo.” E recomendou uma revisão urgente das autorizações da FDA, apelando a que o corante fosse sujeito a um período de reavaliação, à semelhança do que acontece com pesticidas e outros aditivos.

Panorama regulatório global: de Lisboa a Tóquio

Na América do Norte, o Citrus Red 2 mantém-se restrito à casca de laranjas certificadas, mas em abril de 2025 a FDA revelou um plano de fase‑out de todos os corantes sintéticos até dezembro de 2026, incluindo exatamente o Citrus Red 2 e o Orange B, numa tentativa de alinhar os Estados Unidos com práticas mais cautelosas.

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Já o Canadá proibiu o aditivo em 1983, enquanto a Austrália, em 1985, o baniu depois de um inquérito do FSANZ (Food Standards Australia New Zealand) associar o corante a alterações comportamentais em jovens roedores. O Japão seguiu o exemplo em 1990 e, na União Europeia, desde 1983 que o Citrus Red 2 não consta de nenhuma lista de corantes alimentares autorizados.

No Mercosul, Brasil e Argentina mantêm proibições desde 1992, mas no México e no Chile ainda se discute a atualização das normas, algo que a Agência Chilena de Segurança Alimentar (ACHIPIA) pretende converter em lei até 2026, com base num relatório conjunto com o Instituto de Nutrição e Tecnologia de Alimentos (INTA) da Universidade do Chile.

O ponto mais mediático surgiu em 22 de junho de 2025, quando a legislatura do Texas aprovou a SB 25, o projeto "Make Texas Healthy Again". Proposta pelo deputado Bill Zedler, a lei obriga, a partir de janeiro de 2027, que qualquer produto alimentar contendo ingredientes banidos em mercados como a UE, Reino Unido, Canadá ou Austrália traga rótulos de aviso, alertando o consumidor para potenciais riscos à saúde.

Como nos afecta em Portugal e que alternativas temos à mão

Embora o Citrus Red 2 não seja comum em sumos ou doces produzidos em território nacional, chega ao nosso país através de laranjas importadas dos EUA que cumpram a norma FDA 21 CFR 74.302. Segundo dados do INE (Instituto Nacional de Estatística), em 2024 entraram em Portugal cerca de 18 000 toneladas de laranjas provenientes da Califórnia e da Flórida — cerca de 12% do consumo total.

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Quem aprecia uma casquinha de laranja em travesseiros ou mousses deve colocar a mão na consciência: ráfia de laranjas nacionais, como as de Carregado (distrito de Lisboa) ou igrejas do Algarve, garantem um aroma natural e livre de corantes. A iniciativa "Fruta Limpa", lançada em 2022 pela DGAV e pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, tem levado workshops a mercados municipais de Lisboa, Porto e Faro, envolvendo apicultores, agrónomos e chefs como o renomeado João Pires, do restaurante Belcanto, que partilha receitas sem casquinhas tingidas.

Quem não dispensa a raspa de laranja nos bolos caseiros, pode optar pelo cultivo amador: a associação "Pomar de Bairro", com núcleos em Coimbra e Évora, disponibiliza mudas de laranjeira sem tratamentos químicos e sessões práticas de apicultura urbana, mostrando como cuidar da fruta do pé à mão.

Quem anda a dar com a língua nos dentes sobre cores falsas deve ficar atento: além de lavar as cascas com solução de água, vinagre e bicarbonato — a mistura clássica recomendada pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge — evite consumir raspas de frutos cuja origem seja duvidosa. Aposte em mercados locais, pondere comprar em cooperativas como a AgrCoop Alentejo, onde o rótulo indica ausência de corantes sintéticos.

Nesta série "Perigo Invisível no Prato", vamos informá-lo sobre os riscos que corre ao consumir alimentos com estas substâncias. Segue abaixo uma lista com os 40 ingredientes alimentares que estão na mira do Projeto de Lei 25 (SB 25) do Texas:

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À medida que desvendamos o complexo mundo dos aditivos alimentares, ingrediente a ingrediente, a teia da indústria alimentar começa a revelar os seus segredos. Cada substância analisada não é apenas um nome num rótulo, mas sim um capítulo na história da nossa alimentação, com um propósito específico, um percurso regulatório e, mais importante, potenciais implicações para a nossa saúde.