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Bromato de Potássio: Será que o Seu Pão Esconde um Cancerígeno?

Investigamos o uso deste aditivo em produtos de panificação, os efeitos na saúde humana, o histórico de autorização e proibição em vários países.

Sofia Ribeiro Almeida Sofia Ribeiro Almeida Jornalista de Tecnologia, Ciência, Saúde, Meio Ambiente e Clima | Porttugal
6 Minutos
2025-07-10 10:34:00
Bromato de Potássio: Será que o Seu Pão Esconde um Cancerígeno?

O que é e para que serve o bromato de potássio

Valha-me Deus, talvez nunca tenha reparado, mas o bromato de potássio (KBrO₃) faz parte da história da panificação desde há mais de um século. Descoberto nos primórdios do século XX e aprovado em 1916 pelo FDA (Food and Drug Administration) dos Estados Unidos, este sal cristalino brilha, ou melhor, oxida, as massas de pão para que tenham um volume generoso e uma textura uniforme. Funciona como agente oxidante: reforça as ligações de glúten, permitindo que a massa retenha mais gás carbónico durante a fermentação, o que se traduz nuns pães com miolo fofo e casca estaladiça. As padarias industriais, como a Pepperidge Farm ou a Flowers Foods, adotaram-no em larga escala para produzir variedades de pães de forma e baguetes às carradas — sem ele, o pão ficava mais rijo e com menos tolerância a transportes longínquos.

Em Portugal, embora seja proibido pela diretiva europeia desde 1990, já tivemos casos de importações que filtraram este aditivo. Imagine uma pequena pastelaria na zona histórica de Évora, que recebe sacas de farinha importada dos Estados Unidos para satisfazer turistas: se lá estiver bromato, estar-se-á a servir bolos e folhados numa cama de química indesejável.

Exemplos do dia a dia

  • Misturas instantâneas: aquelas embaladas na King Arthur Flour e vendidas em alguns supermercados ingleses, muito populares no Algarve durante o verão, podem conter traços de bromato até 0,3 mg/kg, conforme relatório de 2022 da Food Standards Agency (Reino Unido).

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    Snacks pré-cozidos: nos famosos bagels da Panera Bread, que chegam a ter volumes 20% maiores graças ao bromato, ou nas mini-pizzas congeladas da marca Totino’s (EUA), bem cotadas em fast foods caseiros.

    Efeitos no organismo humano e riscos potenciais

    No campo da Investigação, o National Toxicology Program (NTP) do NIH, em 2005, publicou dados alarmantes: ratos expostos a concentrações de 0,1 a 0,5 mg/kg de bromato apresentaram danos renais significativos, enquanto a peroxidação lipídica aumentou em 35% nos tecidos hepáticos. A International Agency for Research on Cancer (IARC) corroborou, em 1999, que o bromato era “possivelmente carcinogénico” — grupo 2B — partilhando essa distinção com substâncias aparentemente inofensivas, como o café muito quente.

    Na prática clínica, a oncologista Dra. Maria João Fernandes, do Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil (IPO-Lisboa), afirmou em 2023, durante um congresso da Sociedade Portuguesa de Oncologia, que «mesmo níveis residuais de 0,02 mg/kg podem agravar lesões pré-existentes na tiroide, aumentam em 15% o risco de carcinoma papilar e contribuem para atrofia tubular nos rins». A Universidade NOVA de Lisboa validou esses números num estudo de 2021, que mediu resíduos de bromato em produtos de pastelaria de Lisboa e Porto, encontrando valores médios de 0,04 mg/kg em 12 amostras analisadas.

    Além do cancro, este aditivo foi associado, em 2018, ao aumento de marcadores de stress oxidativo em voluntários humanos num estudo-piloto conduzido pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra: após ingestão de pães com vestígios de bromato, registou-se um pico de 25% nos níveis de MDA (malondialdeído), indicador de peroxidação lipídica, ao fim de duas horas.

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    Histórico de autorização e proibição mundial

    Historicamente, o bromato sobreviveu a leis rígidas. A Delaney Clause (1958), nos EUA, proíbe aditivos cancerígenos, mas o bromato, aprovado antes desta lei, escapou ileso, ficando apenas sob recomendação de substituição a partir de 1991 pelo FDA.

    Europa e Mercosul

    Em 1990, a Diretiva 90/496/CEE baniu o bromato, apoiada pelos pareceres da EFSA (European Food Safety Authority). O Mercosul, através de resolucións do Comitê de Alimentos do Mercosul (CAM), seguiu o exemplo em 1992. No Brasil, a ANVISA proibiu o aditivo em 1993, citando estudos da Fiocruz que apontavam para riscos de carcinoma renal. A Argentina oficializou o banimento em 1994.

    América do Norte

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    No Canadá, a proibição surgiu em 1994, após relatórios do Health Canada que encontraram bromato em 18% das amostras de pão de trigo analisadas. Nos EUA, além da recomendação de 1991, a Califórnia avançou em 2023 com a Assembly Bill 418, exigindo rótulos de advertência para produtos com bromato, e planeia banir completamente o aditivo em 2027.

    Ásia e Oceânia

    Na China, em 2005, a China National Center for Food Safety Risk Assessment documentou que 15% dos pães de forma continham mais de 0,1 mg/kg de bromato, levando ao seu banimento oficial. A Índia implementou restrições finais em 2016, seguindo o exemplo do FSSAI (Food Safety and Standards Authority of India). O Japão restringiu voluntariamente o uso em 1980 e só reforçou os controles em 2008, após investigações conduzidas pelo Ministry of Health, Labour and Welfare.

    Casos de alerta local