Independência Jornalística: Publique Aqui.
Bitcoin: Loading...
Ethereum: Loading...
Ripple: Loading...
Cardano: Loading...
Solana: Loading...
SPY: Loading...
IVV: Loading...
VOO: Loading...
QQQ: Loading...
VTI: Loading...

Sections

Countries

LinkedIn Telegram E-mail

Óleo de Palma Interesterificado: A 'Nova Gordura' que lhe Pode Minar a Saúde

Investigamos os impactos desta gordura modificada no organismo, a sua história na indústria alimentar e o alerta legislativo no Texas.

Sofia Ribeiro Almeida Sofia Ribeiro Almeida Jornalista de Tecnologia, Ciência, Saúde, Meio Ambiente e Clima | Porttugal
5 Minutos
2025-07-07 13:18:00
Óleo de Palma Interesterificado: A 'Nova Gordura' que lhe Pode Minar a Saúde

O óleo de palma interesterificado é o resultado de um processo técnico-meticuloso — a interesterificação — que reorganiza as cadeias de ácidos gordos nos triacilgliceróis, alterando atributos essenciais como o ponto de fusão, a resistência ao calor e a textura final do produto. Este método emergiu, sobretudo, como resposta à crescente condenação dos ácidos gordos trans, responsáveis por elevar os níveis de colesterol LDL e agravar o risco cardiovascular. Em 2015, a Organização Mundial de Saúde (OMS) apelou à eliminação dos trans fats em produtos alimentares até 2023, pressionando indústrias e autoridades reguladoras a encontrarem alternativas mais seguras.

Em Portugal, a adoção do óleo de palma interesterificado acelerou-se após 2017, quando a Refinarias Unidas de Leixões anunciou parcerias com laboratórios da Universidade do Porto para desenvolver formulações estáveis à temperatura ambiente. A Sovena, por seu turno, incluiu esta gordura em 12% da sua linha de margarinas profissionais, vendida para pastelarias artesanais de Lisboa e Porto. Segundo dados da Associação Nacional das Indústrias de Conservas (ANICP), entre 2017 e 2022, a quota de conservas de peixe embaladas em óleo vegetal que usam óleo de palma interesterificado cresceu de 18% para 34% do mercado, refletindo a busca por prazos de validade mais longos e texturas mais consistentes.

A necessidade de manter produtos com boa “pegada” — isto é, capacidade de resistir a variações térmicas e conservar sabor e crocância — tornou o óleo de palma interesterificado popular em segmentos tão diversos como confeitaria (recheios de pastéis de nata), chocolates de cobertura, margarinas de barrar e biscoitos secos.

Efeitos no organismo e riscos potenciais

Em ensaios com ratinhos conduzidos pelo Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da Universidade do Minho, administrou-se 1,5 g/Kg de óleo de palma interesterificado diariamente durante oito semanas. Os resultados, apresentados em 2023 no Congresso Português de Nutrição, mostraram incrementos médios de 25% nas enzimas hepáticas ALT e AST em comparação com o grupo controlo, sinal de tensão no fígado e possível inflamação crónica. O Professor António Moreira, líder do estudo, sublinhou: "Embora ainda exista um hiato entre modelos animais e humanos, estes indícios justificam uma abordagem prudente e prolongamento dos ensaios".

Seu código Adsense aqui

Em humanos, a experiência lusa no Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, envolveu 30 voluntários que, em jejum, ingeriram bebidas enriquecidas com triglicéridos interesterificados fornecidos pela unidade de farmácia hospitalar. Publicado na revista "Nutrição e Saúde" em 2022, o estudo registou picos de triglicéridos 15% superiores ao placebo após duas horas, mas não observou alterações relevantes no LDL ou na insulina. A Dra. Marta Sousa alerta, porém, que "os efeitos cumulativos em consumidores habituais podem manifestar-se apenas em estudos de longo prazo, sobretudo em populações com predisposição à resistência insulínica".

Adicionalmente, um relatório de 2024 da European Food Information Council (EUFIC) compilou dados de vários estudos europeus e concluiu que, apesar de não haver evidência conclusiva de riscos imediatos, existe incerteza quanto a cenários de consumo elevado e diário, especialmente em grupos vulneráveis como crianças e grávidas.

Regulação e posição dos principais blocos

Nos Estados Unidos, o óleo de palma interesterificado obteve em 2016 o estatuto GRAS (Generally Recognized as Safe) por parte da FDA, abrindo caminho a uma subida de 15% na produção de ingredientes interesterificados por empresas como Archer Daniels Midland (ADM) e Cargill até 2020. Contudo, em 2023, o Environmental Working Group (EWG) divulgou um relatório pedindo uma revisão desta classificação, citando estudos emergentes sobre metabolismo lipídico.

Na União Europeia, a EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos) enquadra a interesterificação no Regulamento (CE) 1333/2008, avaliando processos e catalisadores, mas sem impor limites específicos às gorduras interesterificadas. Países como França e Alemanha já solicitaram em 2022 relatórios complementares acerca de potenciais efeitos endócrinos, enquanto o Comité Permanente de Plantas, Animais, Alimentos e Ração (SCOPAFF) debateu a matéria em fevereiro de 2025.

Seu código Adsense aqui

No Mercosul, o Brasil segue as diretrizes da ANVISA sem restrições, mas a Universidade de São Paulo (USP) lançou em 2021 um programa de investigação sobre impactos metabólicos em populações indígenas de Rondônia. Na Argentina, o SENASA iniciou em 2021 um projeto-piloto de recolha de dados em frigoríficos e fábricas de biscoitos, com resultados aguardados para o final de 2025.

Na Ásia, a China aprovou em 2018 o uso irrestrito via CFDA, mas a Universidade de Pequim tem publicado artigos que questionam efeitos a longo prazo. O Japão, através da Food Safety Commission of Japan (FSCJ), exige relatórios bienais ao Parlamento e, em 2024, incluiu a interesterificação na pauta de revisão toxicológica.

No Canadá, após banir os trans fats em 2018, o Health Canada mantém sob vigilância gorduras interesterificadas, enquanto o Reino Unido, através da Food Standards Agency (FSA), debateu em 2024 a necessidade de rotulagem adicional. A Austrália, por seu lado, segue as recomendações do Codex Alimentarius sem alertas específicos.

O Projeto de Lei 25 do Texas, "Make Texas Healthy Again", aprovado em março de 2025, poderá tornar-se o primeiro exemplo de rotulagem obrigatória para óleo de palma interesterificado, listando-o ao lado de substâncias como gorduras trans, carragenina e dióxido de titânio. Se assinado pelo governador, entra em vigor em janeiro de 2026.

Ocorrência em alimentos e alerta ao consumidor

Seu código Adsense aqui

Em Portugal, supermercados como Continente, Pingo Doce e Auchan comercializam margarinas e cremes de barrar que podem disfarçar o óleo de palma interesterificado sob a designação "mistura de gorduras vegetais totalmente hidrogenadas" ou "óleos interesterificados". Marcas de confeitaria industrial como a Tosta Rica usam esta gordura em biscoitos "Maria" e recheios de bolachas de cacau, enquanto chocolates de marca própria no Pingo Doce apresentam fórmulas com estabilidade térmica reforçada.

Nas pastelarias de Lisboa, destacam-se nomes como a "Pastelaria Versailles" e a "Manteigaria Silva", onde já se encontrou a designação em listas de ingredientes de folhados e palmiers. No Porto, a "Confeitaria do Bolhão" acelerou a transparência, passando a detalhar nas montras quais produtos usam óleo de palma interesterificado e quais utilizam alternativas de manteiga pura ou gorduras não processadas.

Em cidades do interior — Évora, Coimbra e Faro —, consumidores que frequentam mercearias locais revelam crescer a preocupação: em inquérito da DECO Proteste de 2024, 62% dos inquiridos manifestaram receio quanto à presença de aditivos não descritos de forma clara. A associação de consumidores recomendou que os rótulos incluam avisos como "contém gorduras interesterificadas" e sugeriu um limite máximo de 3% de gordura interesterificada no total lipídico do produto.

Para o leitor atento, a dica é consultar sempre a lista completa de ingredientes, evitar termos vagos e privilegiar produtos com formulações conhecidas (manteigas de produtores nacionais, óleos de Oliveira bio), além de acompanhar eventuais desenvolvimentos legislativos, nomeadamente a possível implementação de modelos de rotulagem mexicana ou canadiana como inspiração para Portugal.

Nesta série "Perigo Invisível no Prato", vamos informá-lo sobre os riscos que corre ao consumir alimentos com estas substâncias. Segue abaixo uma lista com os 40 ingredientes alimentares que estão na mira do Projeto de Lei 25 (SB 25) do Texas:

Seu código Adsense aqui

À medida que desvendamos o complexo mundo dos aditivos alimentares, ingrediente a ingrediente, a teia da indústria alimentar começa a revelar os seus segredos. Cada substância analisada não é apenas um nome num rótulo, mas sim um capítulo na história da nossa alimentação, com um propósito específico, um percurso regulatório e, mais importante, potenciais implicações para a nossa saúde.