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Propilparabeno: O Aditivo Escondido que Ameaça a Sua Fertilidade e Pode Baralhar as Suas Hormonas

Investigação revela efeitos hormonais, histórico de uso na indústria alimentar desde os anos 1920 e regulações divergentes entre EUA, UE, Mercosul e Ásia.

Sofia Ribeiro Almeida Sofia Ribeiro Almeida Jornalista de Tecnologia, Ciência, Saúde, Meio Ambiente e Clima | Porttugal
6 Minutos
2025-07-11 09:08:00
Propilparabeno: O Aditivo Escondido que Ameaça a Sua Fertilidade e Pode Baralhar as Suas Hormonas

Um Conservante de Longa Data e Propósito Microbiano

Foi na efervescência industrial dos anos 1920, em Inglaterra, que um químico do Laboratório de Investigación Farmacêutica de Pfizer, em Sandwich, Kent, observou: o propilparabeno (ou E216), um composto derivado do ácido p-hidroxibenzoico, tinha um poderoso efeito inibidor sobre bactérias e fungos. Rapidamente, a indústria farmacêutica britânica incorporou-o em xaropes e pomadas, não alterando o sabor ou o aroma dos preparados — uma dádiva para farmacêuticos de Nottingham a Faro.

Em meados do século XX, as autoridades portuguesas começaram a importar conservantes segundo padrões definidos pela recém-criada Autoridade das Comunidades Europeias. Em 1962, a Comissão Económica Europeia divulgou a lista unificada de aditivos, mas só em 1964 foi publicada, em Lisboa, a Diretiva 64/3/CEE, que assentou as bases do uso de E216 em alimentos processados, como patês de aves, conservas de legumes e sopas instantâneas.

Em território americano, foi a partir de 1982 que o FDA, com sede em Silver Spring, Maryland, incluiu o propilparabeno na listagem GRAS (Generally Recognized As Safe). O 21 CFR §582.3670 permite hoje concentrações até 0,1% (ou 1 000 ppm) em produtos alimentares, verba registada nos diários oficiais de Washington DC.

Em 2024, um estudo da Universidade de Aveiro, coordenado pelo professor João Barros, mediu traços de propilparabeno em 37% das 50 marcas de molhos para salada analisados em supermercados de Lisboa — valores que rondaram os 120 ppm em cremes de queijo e 85 ppm em molhos vinagrete, bem dentro dos limites legais, mas suficientemente elevados para despertar atenções nos consumidores atentos.

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Efeitos no Organismo e Potenciais Riscos

Investigadores do Instituto de Saúde Ambiental de Barcelona (ISGlobal) verificaram, em 2023, que o propilparabeno pode interferir na cadeia respiratória mitocondrial de células hepáticas humanas, reduzindo níveis de ATP em até 25%. Em termos práticos, isso sugere um potencial impacto na produção de energia e no metabolismo celular — pormenor que levou o professor Teresa Sousa, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, a afirmar, em conferência no INSA, que «esta perturbação pode aumentar o risco de fadiga crónica em exposições prolongadas».

Quando se olha ao sistema endócrino, o propilparabeno age como um estrogénio fraco. No início de 2025, num estudo coordenado pela Escola Nacional de Saúde Pública em Lisboa, recorreu-se a amostras de soro de voluntários do laboratório da CUF Descobertas: detectaram-se vestígios de parabens em 72% dos participantes, com correlações estatísticas moderadas a níveis alterados de testosterona (até 14% abaixo do esperado em homens entre 25 e 40 anos).

No Brooklyn, Nova Iorque, a ONG Environmental Working Group (EWG) divulgou um relatório em setembro de 2023, onde se encontraram concentrações de propilparabeno no sangue do cordão umbilical de recém-nascidos que ultrapassavam 50 ppb em sete de dez bebés analisados — situação que acendeu o debate na Escola de Saúde Pública da Universidade de Columbia.

Panorama Regulatório Internacional

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Em outubro de 2023, a Califórnia fez história ao aprovar a California Food Safety Act — proibição do propilparabeno em alimentos a partir de 1 de janeiro de 2025. Cerca de seis meses depois, em junho de 2024, a Legislatura do Texas avançou com o SB 25, o "Make Texas Healthy Again", aguardando apenas a assinatura do governador Greg Abbott. A medida impõe que produtos com E216, bem como outras 44 substâncias banidas ou avisadas na UE, Reino Unido, Canadá e Austrália, ostentem um rótulo de aviso claro.

Na União Europeia, o Regulamento (CE) 1333/2008 mantém o propilparabeno autorizado em quatro categorias: produtos cárneos processados, laticínios, patês e pratos culinários cozidos. Contudo, em cosmética, o Comité Científico de Segurança do Consumidor (SCCS), em 2022, limitou a soma de propil e butilparabeno a 0,19% no total de formulações.

No Mercosul, o Brasil e a Argentina alinharam-se com os padrões do Codex Alimentarius, permitindo até 200 mg/kg em conservas vegetais e 400 mg/kg em molhos e condimentos, conforme as resoluções RCA 37/2008 (Mercosul) e RDC 149/2011 (ANVISA).

No Canadá, a revisão de 2021 pela Health Canada ajustou níveis máximos: 150 mg/kg em lacticínios e 300 mg/kg em concentrados de sumo de fruta. No Japão e na China, o Codex GSFA serve de guia, mas o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão recomendou, em 2024, reduzir o ADI de parabens para 0–10 mg/kg de peso corporal, diante de evidências em roedores.

Presença em Produtos e Alerta do Texas

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Em Portugal, a ASAE, no âmbito do Plano Nacional de Colheita de Amostras 2024, analisou 120 lotes de confeitaria e molhos, detetando E216 em 40% dos produtos e acentuando a necessidade de vigilância. Entre os flagrantes, destacou-se a marca nacional Beguinha, cujas bolachas de chocolate apresentaram 150 ppm de propilparabeno: valor nos topos permitidos, mas entre os mais elevados do estudo.

Nas prateleiras de Lisboa e Porto, além de molhos de salada (como os da marca Gomes da Silva) e snacks salgados (ex. Pastilhas Sausalito), o propilparabeno pontua em patês de atum (marca Compal) e misturas para sopas instantâneas (como as da Knorr).

O SB 25 do Texas força um piscar de olhos global: a indústria alimentar, já pressionada pelos hábitos de consumo mais conscientes, vê-se agora impelida a rever fórmulas antes de 2027, sob pena de perder acesso a um mercado de 29 milhões de habitantes. Os fabricantes portugueses que exportam para os EUA, como a Sovena e a Nocel, já pressionam institutos de investigação, como o INIAV, para desenvolver alternativas naturais e biodegradáveis.

Nesta série "Perigo Invisível no Prato", vamos informá-lo sobre os riscos que corre ao consumir alimentos com estas substâncias. Segue abaixo uma lista com os 40 ingredientes alimentares que estão na mira do Projeto de Lei 25 (SB 25) do Texas:

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À medida que desvendamos o complexo mundo dos aditivos alimentares, ingrediente a ingrediente, a teia da indústria alimentar começa a revelar os seus segredos. Cada substância analisada não é apenas um nome num rótulo, mas sim um capítulo na história da nossa alimentação, com um propósito específico, um percurso regulatório e, mais importante, potenciais implicações para a nossa saúde.