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Óleo Parcialmente Hidrogenado: As Gorduras 'Más' que Põem a Sua Saúde em Risco

Este artigo aprofunda os efeitos nocivos dos PHOs no organismo, traça a evolução do seu uso desde a indústria alimentar até às proibições em diversas regiões, incluindo Estados Unidos, União Europeia, Mercosul e Ásia, com foco em Portugal.

Sofia Ribeiro Almeida Sofia Ribeiro Almeida Jornalista de Tecnologia, Ciência, Saúde, Meio Ambiente e Clima | Porttugal
6 Minutos
2025-07-09 12:15:00
Óleo Parcialmente Hidrogenado: As Gorduras 'Más' que Põem a Sua Saúde em Risco

O que são os PHOs e como nos afetam

Quando falamos de óleos parcialmente hidrogenados — ou PHOs, para simplificar — não estamos a enrolar ninguém: trata-se de gorduras vegetais num processo químico que converte ligações duplas em ligações simples, transformando um óleo fluido num ingrediente semi-sólido. Esta técnica foi patenteada pelo químico alemão Wilhelm Normann em 1902 e chegou a Portugal algumas décadas mais tarde, quando os nossos mercados começaram a importar margarinas de marcas como a Planta e a Flora.

Há aqui um truque de bastidores: esses óleos resistentes ao calor e à oxidação evitavam que as margens de padarias e pastelarias descessem em resultado de produtos rançosos. No entanto, esta conveniência tem um preço. O relatório da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) de 2020 indica que a ingestão média de gorduras trans na Europa ronda os 0,7% da ingestão calórica total — e a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda não ultrapassar 1% do total de calorias diárias. Em Portugal, um estudo do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, publicado em finais de 2023, calculou um consumo médio de 1,2 gramas diárias de gorduras trans por habitante, ultrapassando a recomendação da OMS e comprometendo o perfil lipídico da população.

Para o cardiologista João Fonseca, do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, "as gorduras trans elevam o LDL — o colesterol 'ruim' — em cerca de 10%, e reduzem o HDL — o colesterol 'bom' — em 8%, o que corresponde a um aumento de 20% no risco de enfarte". Este especialista sublinha que, em 2022, o Serviço Nacional de Saúde registou mais de 8.500 internamentos por doença coronária, número que poderia ter sido reduzido caso os hábitos alimentares se aproximassem das diretrizes da OMS.

Num estudo da NOVA Medical School com 1.200 voluntários de várias faixas etárias, constatou-se que quem ingeria mais de 2 gramas diários de gorduras trans apresentava um aumento de 15% no desenvolvimento de placas ateroscleróticas, comparativamente a quem mantinha o consumo abaixo de 1 grama. Este resultado, publicado na Revista Portuguesa de Cardiologia, faz-nos pensar duas vezes antes de dar aquela dentada distraída num pastelinho.

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A corrida industrial ao PHO

Na viragem do século XX, as grandes companhias perceberam o potencial dos PHOs. Em 1911, a Procter & Gamble lançou o Crisco, o primeiro shortening feito exclusivamente com óleo parcialmente hidrogenado. Em Portugal, a empresa Cimpor começou a importar margarina Crisco para padarias de Lisboa e Porto, mudando para sempre a textura dos nossos folhados e pastéis de nata.

Esta mudança industrial não ficou por aqui. Segundo a Associação das Indústrias de Padaria, Pastelaria e Similares de Portugal (AIPPS), em 2021 o setor consumiu cerca de 8.000 toneladas de gorduras vegetais modificadas, sobretudo para prolongar a vida útil dos produtos e reduzir custos com desperdício. Marcas tradicionais, como a Padaria do Bairro Alto, admitiram que, até 2019, utilizavam margarina de soja parcialmente hidrogenada em cerca de 80% dos seus produtos.

A nutricionista Marta Costa, da Ordem dos Nutricionistas, lembra que "os PHOs conferem estabilidade térmica e crocância prolongada, mas à custa da saúde cardiovascular". Ainda hoje, marcas como Continente, Pingo Doce e Auchan incluem pequenas quantidades de PHOs em snacks como batatas fritas de pacote, bolachas recheadas e pipocas de micro-ondas, muitas vezes sem destaque nos rótulos, pois sob o termo "gordura vegetal" esconde-se o ingrediente controverso.

Quando o mundo disse ‘basta’

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O virar de página começou nos Estados Unidos, em 2013, quando a FDA constatou que os PHOs não eram considerados seguros (GRAS). Em 2015, em documento oficial, definiu um cronograma que culminou em 1 de janeiro de 2021, data em que a indústria devia estar livre destes óleos. O Centro de Controlo de Doenças (CDC) relata uma queda de 70% nas mortes por enfarte ligadas a gorduras trans desde a implementação da norma.

Na União Europeia, o Regulamento (UE) 2019/649 entrou em vigor em 1 de abril de 2021, impondo o teto de 2 gramas de gorduras trans industriais por 100 gramas de gordura total. Países como a França, pelo Observatório Nacional de Alimentação, registaram uma redução de 45% na presença de PHOs em padarias até 2022. Em Portugal, uma auditoria da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) em 2023 mostrou que 90% dos produtos analisados cumprem o limite, mas 10% ainda apresentam valores próximos ao máximo permitido.

No Mercosul, o Brasil deu um passo em dezembro de 2019, quando a ANVISA limitou as gorduras trans a 2% em óleos e produtos refinados até julho de 2021, proibindo totalmente os PHOs em janeiro de 2023. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) documentou uma queda de 60% nos rótulos com trans fats entre 2018 e 2022.

Na Ásia, Singapura liderou ao banir completamente os PHOs em junho de 2021, seguindo-se o Canadá em setembro de 2018. No Japão, a Health Ministry estabeleceu um limite de 1% até 2022 e iniciou campanhas de sensibilização em escolas primárias, envolvendo o Ministério da Educação. Em contraste, China e Índia ainda mantêm limites elevados (acima de 5%), mas associações locais de cardiologia pressionam por revisão.</n

No prato e na lei

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Em Portugal, há quem lute para limpar as mesas e travessas. A Pastelaria Alcôa, no Largo de São Domingos, confessa que, até 2022, os seus travesseiros de Sintra levavam margarina parcialmente hidrogenada, mas agora usam manteiga AOP de barragem de Alcobaça. Já a Manteigaria do Rossio, instalada no Terreiro do Paço, orgulha-se de ter substituído todos os PHOs por manteigas puras, referência para turistas e lisboetas.

Nos supermercados, as pipocas Pop Secret e as batatas pré-cozinhadas Ondina ainda podem conter vestígios destas gorduras. Em resposta, a Direção-Geral da Saúde (DGS) publicou, em março de 2025, um guia de leitura de rótulos, destacando termos como "hidrogenada" e "parcialmente hidrogenada". Para Marta Mendes, técnica da DGS, "a transparência na rotulagem é essencial para o consumidor fazer escolhas informadas".

Do outro lado do Atlântico, o Projeto de Lei 25 do Texas — apelidado de "Make Texas Healthy Again" — foi aprovado pela legislatura em 22 de junho de 2025 e aguarda a assinatura do governador Greg Abbott. A proposta exige rótulos de advertência em produtos que contenham ingredientes banidos em regiões como a União Europeia, o Reino Unido e o Canadá. Se for promulgada, o Texas será pioneiro nos EUA a incluir selos de alerta nutricional obrigatórios para PHOs.

O impacto estende-se a restaurantes, padarias artesanais e cantinas escolares. A Associação de Pais e Encarregados de Educação de Braga questionou, em abril de 2025, o Ministério da Educação sobre a substituição das margarinas nos intervalos escolares. Em Coimbra, a Universidade de Coimbra lançou um projeto-piloto para introduzir opções sem gorduras trans em refeitórios universitários, envolvendo a Faculdade de Farmácia e a direção de sustentabilidade do campus.

Agora, pergunto: na próxima ida ao café ou à pastelaria, vais escolher óleo parcialmente hidrogenado ou uma alternativa que preserve o prazer do paladar e o bem-estar do coração? O poder está nas tuas mãos (e nas tuas escolhas alimentares).

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Nesta série "Perigo Invisível no Prato", vamos informá-lo sobre os riscos que corre ao consumir alimentos com estas substâncias. Segue abaixo uma lista com os 40 ingredientes alimentares que estão na mira do Projeto de Lei 25 (SB 25) do Texas:

À medida que desvendamos o complexo mundo dos aditivos alimentares, ingrediente a ingrediente, a teia da indústria alimentar começa a revelar os seus segredos. Cada substância analisada não é apenas um nome num rótulo, mas sim um capítulo na história da nossa alimentação, com um propósito específico, um percurso regulatório e, mais importante, potenciais implicações para a nossa saúde.