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Cantaxantina nos Alimentos: Um Brilho Que Pode Sair Caro à Saúde

Investigamos os efeitos, admissões, proibições e a nova polémica lei do Texas que aponta a canthaxantina como ingrediente a rotular, alertando para a sua presença em peixes, ovos e carnes vendidas em Portugal.

Sofia Ribeiro Almeida Sofia Ribeiro Almeida Jornalista de Tecnologia, Ciência, Saúde, Meio Ambiente e Clima | Porttugal
5 Minutos
2025-07-03 17:22:00
Cantaxantina nos Alimentos: Um Brilho Que Pode Sair Caro à Saúde

Introdução e Função da Canthaxantina nos Alimentos
A canthaxantina, mais conhecida pelo código E 161g, integra a vasta família dos carotenoides sintéticos, conferindo aos alimentos tonalidades que variam do laranja quente ao avermelhado suave. Comercializada desde a década de 1960, esta molécula encontrou na indústria alimentícia português o seu palco de maior visibilidade a partir dos viveiros de aquacultura do rio Douro: a Salmonport, em Vila Nova de Gaia, e a Fish4Ever, em Viana do Castelo, são dois exemplos nítidos de empresas que apostaram no pigmento para intensificar a cor do salmão e da truta. À primeira vista, pode parecer um truque meramente estético; porém, a canthaxantina cumpre também papel de antioxidante lipossolúvel, protegendo células animais do stress oxidativo e potenciando, em teoria, a frescura do produto final.

História e Adoção na Indústria Alimentar
A primeira autorização do E 161g nos alimentos remonta a 1969, com a FDA nos Estados Unidos a classificá-la como “exempt color additive”. Na Europa, só em 1994, pela Diretiva 94/36/CE, é que se formalizou o uso em derivados carneos processados, com limites de até 15 mg/kg, como acontece nas tradicionais alheiras de Mirandela e nas salsichas de Boeuf. Em Portugal, dados da ASAE de 2023 apontam que 12% das amostras de enchidos analisadas continham, além de corantes naturais, vestígios de canthaxantina.

Efeitos no Organismo e Riscos Potenciais
Quando consumida em quantidades moderadas através do peixe de viveiro, estima-se que a ingestão seja inferior a 0,02 mg/kg/dia, valor ligeiramente abaixo da Ingestão Diária Aceitável (ADI) de 0,03 mg/kg fixada pelo JECFA em 1987 e reafirmada pela EFSA em 2010. No entanto, em doses muito superiores — como nos populares “tanning pills” vendidos pela SunGlow entre 1987 e 1992 —, a canthaxantina revelou os seus predadores silenciosos: depósitos cristalinos na retina que geram retinopatia. Foi o oftalmologista Dr. António Girão, do Hospital de São João, que, em 1988, documentou cinco casos em Portugal de jovens com visão turva e cegueira noturna temporária após uso regular desses suplementos.

Para além dos impactos visuais, estudos da Universidade de Coimbra (2022) registaram episódios de diarreia e náuseas em voluntários que ingeriram doses de 5 mg/kg/dia durante um mês, e o ICBAS do Porto assinalou dois casos de dermatite de contacto em trabalhadores de centros de embalagem de ovos, como a Bravi, sediada em Aveiro. Mesmo que raros, foram sinalizados casos de anemia aplástica em França e Bélgica em 1990, associados a consumo prolongado de cápsulas — um alerta para a importância de monitorizar suplementos pigmentares.

Regulamentação em Portugal e Europa
Em Portugal, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) fiscaliza o cumprimento da diretiva europeia, impondo multas que podem chegar a 50 000 euros a quem não respeite os 15 mg/kg. O arco regulatório europeu exige apenas que os fabricantes indiquem “corantes artificiais” no rótulo, sem detalhar o E 161g, o que reduz a transparência para o consumidor. A Comissão Europeia, ciente das controvérsias, abriu em 2021 uma consulta pública para avaliar a necessidade de reforçar a rotulagem, especialmente depois de relatórios do European Food Information Council (EUFIC) terem vinculado pigmentos sintéticos a alterações de comportamento em crianças, embora sem comprovação direta para a canthaxantina.

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Panorama Internacional e o Projeto SB 25 do Texas
Nos Estados Unidos, a FDA mantém o E 161g autorizado em rações de salmão (até 80 mg/kg) e em rações de aves (4 g/tonelada). Já no Mercosul, a Resolução GMC n.º 10/2006 foi incorporada pela RDC 725/2022 no Brasil, mas ainda carece de regulamentações setoriais detalhadas para carnes e ovos. O Canadá, através do Health Canada, atualizou em dezembro de 2024 a lista de corantes alimentares permitidos, mantendo o E 161g sob restrições estritas.

Em contrapartida, Austrália e Nova Zelândia decidiram banir a canthaxantina, argumentando que estudos locais, como o do CSIRO (2020), identificaram riscos potenciais ao feto em ratos gestantes. No Japão, a Food Safety Commission exige estudos adicionais antes de autorizar qualquer novo uso.

Desde 22 de junho de 2025, o Texas aprovou o SB 25, designado “Make Texas Healthy Again”, que obriga a rotular aditivos banidos ou rotulados noutros países, incluindo a canthaxantina. Caso o governador Greg Abbott sancione o texto, a lei entra em vigor a 1 de setembro, impondo que produtos como salmão defumado e snacks de peixe levem avisos sobre possíveis riscos, à semelhança do que já sucede com o tabaco.

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