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Olestra: A "Gordura Zero" que Pode Virar a Sua Barriga do Avesso e Roubar-lhe as Vitaminas

A gordura não absorvível que prometeu dieta sem culpa desde 1996 enfrenta críticas, restrições e advertências por todo o mundo.

Sofia Ribeiro Almeida Sofia Ribeiro Almeida Jornalista de Tecnologia, Ciência, Saúde, Meio Ambiente e Clima | Porttugal
5 Minutos
2025-07-09 08:56:00
Olestra: A "Gordura Zero" que Pode Virar a Sua Barriga do Avesso e Roubar-lhe as Vitaminas

Olestra: o “gorduroso zero” que enganou o consumidor

Quando o Olestra recebeu sinal verde da FDA dos Estados Unidos, há quase três décadas, poucos em Lisboa ou no Porto imaginavam que aquele “gorduroso zero” se tornaria tema de conversa em cafés e praças. Desenvolvido pela Procter & Gamble em parceria com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), o Olestra prometia revolucionar as batatas fritas e snacks salgados, mantendo a textura sedosa da gordura, mas sem aportar uma caloria única ao organismo. Em Julho de 1996, a crónica de Mark Bittman no jornal The New York Times saudava-o como «a salvação dietética de finais de século», enquanto na revista Time se lia que seria o ingrediente que “transformaria o fast-food em aliado da dieta”. Mas depressa se percebeu que nem tudo era assim tão belo.

Em Portugal, o anúncio do Olestra passou despercebido junto do grande público, mas era notícia regular em publicações da recém-criada Ordem dos Nutricionistas e em encontros do Colégio de Nutrição da Associação Portuguesa de Dietistas. Luís Pereira, nutricionista do Hospital de Santa Maria, alertava já em 1998 para a necessidade de “mantermo um pé na prudência”, sublinhando que a excelência dos laboratórios nem sempre reflete a realidade biológica.

A ciência por detrás do Olestra e os seus efeitos no organismo: há sempre uma contrapartida

Tecnicamente, o Olestra é um poliéster de sacarose com cadeias de ácidos gordos que o tornam indigerível pelas enzimas pancreáticas. Isto significa que percorre o tubo digestivo praticamente intacto, sem ser absorvido, resultando numa redução de até 100% das calorias da gordura — segundo o estudo pioneiro de 1997 conduzido pelo Dr. Peter Heckman, da Universidade da Califórnia em Davis.

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Em 2001, investigadores do Centro de Investigação em Nutrição e Alimentos da Universidade de São Paulo (CINAL-USP) encontraram que, face a batatas fritas tradicionais, as versões com Olestra apresentavam diminuição calórica na ordem dos 60% (INEP-USP, 2001). Contudo, nem tudo são boas notícias: desde o início dos anos 2000 que relatos de diarreia, cólicas e incontinência fecal começaram a aflorar, especialmente em indivíduos com síndrome do intestino irritável. No Food and Nutrition Research Journal (2004), um ensaio clínico envolvendo 200 voluntários mostrou que 15% dos participantes sofreram efeitos adversos após consumirem 50 gramas de Olestra — sintomas que variaram de incómodos leves a episódios de urgência fecal.

Citada no relatório de 2010 da EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos), a bioquímica Maria Frade, da Universidade de Coimbra, destacou que o Olestra pode ligar-se a vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) e a carotenoides como o betacaroteno, diminuindo a sua absorção em até 30% após duas semanas de consumo regular.

Cronologia de promessas, avisos e recuos: