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Butylated Hydroxytoluene: Riscos, Regulamentação e Presença nos Alimentos Vendidos em Portugal

Substância amplamente utilizada como antioxidante em óleos e gorduras alimentares, o BHT levanta suspeitas de efeitos tóxicos e hormonais. Conheça os riscos, as motivações da indústria, leis internacionais e onde encontrá-lo nos seus produtos diários.

Sofia Ribeiro Almeida Sofia Ribeiro Almeida Jornalista de Tecnologia, Ciência, Saúde, Meio Ambiente e Clima | Porttugal
6 Minutos
2025-07-01 16:00:00
Butylated Hydroxytoluene: Riscos, Regulamentação e Presença nos Alimentos Vendidos em Portugal

A presença discreta do BHT e as suas origens na alimentação moderna

Quem diria que um composto químico com um nome que faz confundir qualquer mortal — o Butylated Hydroxytoluene, vulgarmente denominado BHT — se aloja em tantos dos produtos que pululam pelas nossas prateleiras? Desenvolvido em 1947 pelos laboratórios da Monsanto para evitar a degradação de borrachas e óleos na indústria petroquímica, rapidamente despertou o interesse do setor alimentar. Em 1954, a FDA (Food and Drug Administration) norte-americana aprovou o uso do BHT como conservante em gorduras e óleos alimentares, classificando-o como “generally recognized as safe” (GRAS) em 1959, segundo registos do National Toxicology Program dos EUA.

Na década de 1950, a Staley Foods, nos EUA, foi das primeiras a incorporar BHT em margarinas e óleos de cozinha, visando estender prazos de validade. Em Portugal, a Gulbenkian Oils, em Palmela, adotou o E 321 — sigla europeia para o BHT — na sua linha de margarinas ainda nos anos 60, conforme registos internos que recentemente vieram a público no Arquivo Histórico de Setúbal.

Um guardião invisível das gorduras

O BHT funciona como um sentinela: impede o contacto do oxigénio com as gorduras, retardando a rancificação e preservando sabor, aroma e cor. É graças a ele que manteigas de amendoim, snacks de batata e preparações desidratadas chegam ao supermercado com aparência de frescura, mesmo meses após a produção.

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Como reagimos ao BHT: do laboratório ao organismo humano

Para o consumidor, é simples: “E 321” no rótulo significa que ali se esconde um antioxidante sintético. Mas, por trás dessa sigla discreta, estão estudos clínicos e investigações sérias.

Em 2012, a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) definiu um valor de Ingestão Diária Aceitável (ADI) de 0,25 mg por kg de peso corporal/dia. Traduzindo para o dia-a-dia, um adulto de 70 kg poderia consumir até 17,5 mg de BHT sem ultrapassar os patamares considerados seguros. Contudo, testes no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, publicados em 2018, identificaram acumulação de BHT no fígado e tecido adiposo de camundongos, sugerindo possível disrupção de funções hormonais.

Evidências em laboratório

Na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, um ensaio liderado pela Dr.ª Maria João Silva expôs ratos a doses crescentes de BHT. A NOAEL (dose sem efeitos adversos observados) situou-se próximo de 25 mg/kg/dia, mas acima desse valor verificaram-se alterações celulares em fígado, rins e glândulas mamárias. "Embora essas doses sejam muito superiores ao consumo normal humano", sublinha a investigadora, "não podemos ignorar os efeitos cumulativos, sobretudo numa dieta rica em ultraprocessados."

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Ainda assim, o consumo médio de BHT em Portugal rondará, segundo um estudo de 2023 da DECO Proteste, os 0,03 mg/kg/dia — seis vezes abaixo do ADI. Mas em snacks salgados essa concentração sobe para 0,05 g/kg em 68% dos produtos analisados, adianta o mesmo inquérito.

Regulamentação e debates internacionais

O estatuto do BHT varia consoante o mapa do mundo: