O que é o E472a e para que serve
O E472a, conhecido em Portugal como éster acetilado de mono- e diglicéridos de ácidos gordos, é um aditivo amplamente utilizado como emulsificador, agente de antiaglomerante e higroscópico.
Foi sintetizado pela primeira vez pelo químico francês Marcelin Berthelot em 1853 e só ganhou aplicação comercial nos anos 1930, mas foi a indústria norte-americana dos anos 1950 que popularizou o seu uso em produtos de panificação e margarinas.
Quimicamente, obtém-se pela esterificação parcial de mono- e diglicéridos (E471) com ácido acético, reforçando a capacidade de misturar água e gordura sem que haja separação.
No dia-a-dia, encontra-se em margarinas e cremes vegetais, bolos industriais, biscoitos, chocolates, gelados, molhos (como maionese) e sobremesas instantâneas, assegurando textura suave e prolongada vida de prateleira.
Efeitos no organismo e potenciais riscos
Apesar de o Painel de Especialistas da EFSA não ter identificado efeitos adversos relevantes para a saúde humana e não ter estabelecido um ADI (Ingestão Diária Aceitável), considerando-o seguro nas doses usuais, estudos recentes lançam um travo de apreensão:
Distúrbios metabólicos: investigações em modelos animais indicam que emulsificantes, incluindo mono- e diglicéridos esterificados, podem alterar a composição da microbiota intestinal, promovendo inflamação de baixo grau e aumentando o risco de síndrome metabólica e obesidade.
Diabetes tipo 2: análises epidemiológicas sugerem correlação direta entre a exposição a vários emulsificantes do tipo E472 e E471 e maior incidência de diabetes mellitus tipo 2 em populações de países industrializados.
Cancro: um estudo francês de 2024, baseado na coorte NutriNet-Santé, observou um aumento de 15% no risco de cancro global em consumidores de alimentos ultraprocessados ricos em E471, com sub-aumentos de 24% para cancro da mama e 46% para próstata.
Inflamação intestinal: investigações ex vivo apontam que alguns emulsificantes podem incentivar a formação de moléculas pró-inflamatórias pela microbiota, comprometendo a barreira epitelial intestinal.
Ainda que não se possa falar de provas conclusivas de causalidade, está mais que na hora de olhar para estes aditivos com olhos bem abertos.
Autorização, adoção industrial e quadro regulatório global
JECFA (1973): estabeleceu “ADI não limitada” para os ésteres de mono- e diglicéridos, abrindo caminho para o uso massivo em todo o mundo.
União Europeia: incluído no Anexo II do Regulamento (UE) nº 231/2012, sem limites máximos de uso; reavaliação de 2020 da EFSA não apontou perigos nas doses tecnológicas.
Reino Unido: Food Standards Agency lista o E472a como aditivo aprovado, com recomendações de moderação em caso de consumo excessivo devido a possíveis dores de cabeça e náuseas.
Estados Unidos: considerado GRAS (Generally Recognized as Safe) pela FDA, sem restrições de concentração.
Canadá: Health Canada permite o uso até 5 000 ppm em várias categorias de produtos, sob princípios de Boas Práticas de Fabrico.
Mercosul: segue tendências de harmonização com a UE e Codex Alimentarius, permitindo o E472a segundo as Boas Práticas de Fabrico.
Japão: utiliza mono- e diglicéridos, e esteres acetilados, também para fórmulas de óleos enriquecidos (óleo DAG) desde finais dos anos 1990, por alegados benefícios de supressão de gordura corporal.
Ausência de proibições: até à data, não há país que tenha banido completamente o E472a, mas o debate transborda para as prateleiras.
Onde encontrar E472a no mercado português e o alerta do Texas
Em Portugal, o E472a está presente em inúmeros produtos de marca branca e marca nacional vendidos em Continente, Pingo Doce, Auchan e outras cadeias. Pense nas margarinas Becel, Ideal ou Minarine, nos bolos de pacote, nos biscoitos recheados, nos gelados industriais, nos iogurtes aromatizados e nos molhos de pacote — a lista é extensa.
Em paralelo, o Projeto de Lei 25 do Texas (“Make Texas Healthy Again”) propôs que, a partir de 2027, todo produto embalado contendo E472a (entre outros 44 aditivos) ostente um rótulo de aviso:
WARNING: This product contains an ingredient that is not recommended for human consumption by the appropriate authority in Australia, Canada, the European Union, or the United Kingdom.
O Senado do Texas aprovou esta medida em maio de 2025, e aguarda-se a sanção do governador Greg Abbott, podendo tornar-se o primeiro estado norte-americano a impor rótulos de alerta baseados em critérios de regulamentações de terceiros. Este movimento espelha preocupações crescentes sobre alimentos ultraprocessados e reforça o mote de que “mais vale prevenir do que remediar”.
Nesta série "Perigo Invisível no Prato", vamos informá-lo sobre os riscos que corre ao consumir alimentos com estas substâncias. Segue abaixo uma lista com os 40 ingredientes alimentares que estão na mira do Projeto de Lei 25 (SB 25) do Texas:
À medida que desvendamos o complexo mundo dos aditivos alimentares, ingrediente a ingrediente, a teia da indústria alimentar começa a revelar os seus segredos. Cada substância analisada não é apenas um nome num rótulo, mas sim um capítulo na história da nossa alimentação, com um propósito específico, um percurso regulatório e, mais importante, potenciais implicações para a nossa saúde.