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Óxido de Propileno nos Alimentos: Uma Surpresa Industrial Indesejada no Seu Menu Diário

Utilizado como fumigante e esterilizante, este composto potencialmente cancerígeno está presente em frutos secos e especiarias, suscitando alertas legislativos.

Sofia Ribeiro Almeida Sofia Ribeiro Almeida Jornalista de Tecnologia, Ciência, Saúde, Meio Ambiente e Clima | Porttugal
6 Minutos
2025-07-10 17:00:00
Óxido de Propileno nos Alimentos: Uma Surpresa Industrial Indesejada no Seu Menu Diário

O que é o óxido de propileno e por que está nos nossos alimentos?

O óxido de propileno, também conhecido como 1,2-epoxypropano, é um composto volátil, incolor e altamente inflamável que, à primeira vista, parece pertencer apenas às instalações industriais onde se fabricam poliuretanos ou propilenoglicol. No entanto, desde meados do século XX, o seu uso estendeu-se ao setor alimentar como fumigante e esterilizante de frutos secos, especiarias e cereais. A sua aplicação surge, sobretudo, como alternativa a processos térmicos ou por vapor que podem alterar as propriedades sensoriais dos produtos.

A FDA dos Estados Unidos aprovou a substância em 1958, em resposta à necessidade de controlar surtos de Salmonella em granjas californianas e canadianas. Nessa altura, amêndoas cruas sofreram uma série de contaminações que culminaram em dezenas de casos de intoxicação alimentar em 2005. A opção pelo óxido de propileno permitiu reduzir a carga bacteriana em até 5 logs – o equivalente a eliminar 99,999% das bactérias – sem afetar o sabor, a textura ou o aroma, segundo relatórios do National Center for Food Safety and Technology.

A indústria avalia que cada ano cerca de 60 mil toneladas de frutos secos importados para a Europa podem passar por fumigação, das quais 45% são tratados com métodos químicos. Em Portugal, empresas como a Suldouro e a Frutorra utilizam processos homologados para exportação, mas ainda não especificaram se recorrem ou não ao óxido de propileno, o que alimenta dúvidas no consumidor.

Efeitos no organismo humano: riscos à saúde

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Os efeitos imediatos do óxido de propileno sobre o organismo humano manifestam-se principalmente pelas vias respiratórias e digestivas. Inalações de concentrações acima de 100 ppm podem causar irritação no nariz, tosse e desconforto ocular, enquanto a ingestão de quantidades mais elevadas origina náuseas e vómitos. Em 2018, um caso documentado no Hospital São João, no Porto, envolveu um operador de fábrica exposto a fugas do produto, tendo recebido tratamento com broncodilatadores e permanecendo em observação durante 48 horas.

Estudos conduzidos pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra demonstraram que exposições agudas de 500 ppm em ratas grávidas provocam malformações cardíacas e redução de peso na prole. Aliás, um grupo de trabalho do Instituto de Investigação Científica Tropical alerta para a capacidade do óxido de propileno de cruzar a barreira placentária e depositar-se em tecidos fetais, embora ainda não haja dados conclusivos em humanos.

No longo prazo, a classificação do IARC como Grupo 2B (“possivelmente cancerígeno”) baseia-se em evidências de tumores no epitélio nasal de roedores e em relatos epidemiológicos junto de trabalhadores de fábricas químicas na Bélgica e no Japão, onde se observou um aumento de 15% nos casos de linfoma não-Hodgkin entre 1990 e 2005. Em declarações à agência Lusa, a oncologista Dra. Teresa Vasconcelos, do Instituto Português de Oncologia do Porto, afirma que “a extrapolação destes dados para populações gerais exige cautela, mas não invalida o reforço de medidas de precaução na cadeia alimentar”.

Do campo ao prato: usos alimentares e regulamentação global

Objetivo tecnológico e histórico de adoção

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Nos EUA, o uso do óxido de propileno ganhou força em 2007, quando o CDC (Centers for Disease Control and Prevention) contabilizou mais de 50 surtos de Salmonella ligados a frutos secos. A regulamentação da FDA passou a incluir, não só amêndoas, mas também pistácios e pimentas secas. O tratamento químico, segundo a autoridade sanitária, não afeta compostos antioxidantes nem vitaminas, o que explica a preferência por este método em detrimento de pasteurizações térmicas.

Em Portugal, o Infarmed e a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) acompanham o processo de autorização de aditivos importados. Apesar de não haver uma norma explícita para o óxido de propileno, as importações provenientes de fora da UE devem cumprir os requisitos do Regulamento (UE) n.º 2019/1381, que reforça a transparência e a avaliação de risco pré-comercialização.

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