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Sulfato de Alumínio e Sódio: O Levedante Oculto que Pode Prejudicar o Seu Cérebro e Ossos

Identificamos os efeitos efeitos neurotóxicos e neurodesenvolvimentais no organismo, a história da sua aprovação, posição global e a nova proposta de aviso no Texas que pode trazer mudanças drásticas nos rótulos.

Sofia Ribeiro Almeida Sofia Ribeiro Almeida Jornalista de Tecnologia, Ciência, Saúde, Meio Ambiente e Clima | Porttugal
6 Minutos
2025-07-12 12:28:00
Sulfato de Alumínio e Sódio: O Levedante Oculto que Pode Prejudicar o Seu Cérebro e Ossos

Contextualização e Histórico de Uso Industrial

Na boca do forno e nas nossas memórias olfativas, o cheiro inconfundível dos bolos a sair do forno traz conforto e recordações de infância. No entanto, poucos imaginam que, por trás de muita doçaria moderna, esconde-se um composto químico que anda no nosso pão de ló e nas papas de leite: o sulfato de alumínio e sódio, mais conhecido pela indústria como E522 ou, na gíria dos químicos, “soda alum”.

O arranque desta história remonta ao fim do século XIX, nos bastidores fervilhantes da Royal Baking Powder Company, em Nova Iorque. Foi lá que William Ziegler, empresário astuto, apregoou a eficiência do seu fermento duplo — uma mistura de bicarbonato de sódio com E522 — mais barata e de ação imediata, face ao tradicional creme de tártaro. Para vender a ideia, Ziegler não hesitou em lançar campanhas nos jornais de circulação nacional, acusando os rivais de falta de consistência e elevando o seu produto a um patamar superior — tudo isto enquanto enredava legisladores em debates sobre saúde pública. No Missouri, por exemplo, proibiu-se o uso de alúmen em fermentos durante alguns anos, até que a própria Royal virou o jogo, garantindo que o seu processo de fabrico cumpria todos os requisitos sanitários da época.

Em Portugal, só na década de 1960 é que o E522 começou a dar cartas em farinha e confeitaria industrial. A Fábrica de Fátima, em Leiria, uma das primeiras a modernizar as linhas de produção de biscoitos, adotou o sulfato de alumínio e sódio para controlar o pH das massas e acelerar o levedar, reduzindo em 30% o tempo de cozedura — segundo um relatório interno de 1972 resgatado pelos Arquivos Distritais de Leiria. Mais tarde, o ingrediente estendeu-se às padarias de Lisboa, ao pastel da Beira Baixa e às fábricas de pré-misturas, ganhando expressão até nos doces conventuais embalados para exportação.

Apesar de passar despercebido na etiqueta, o E522 é um dos chamados aditivos de “tecnologia silenciosa”. Serve para regular a acidez das farinhas, melhorar a textura e aumentar a estabilidade dos produtos durante o transporte — qualidades essenciais para alimentar a produção em massa. Contudo, por trás da eficácia, escondem-se dúvidas que só agora começam a reacender os holofotes da comunidade científica e dos consumidores mais atentos.

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Efeitos no Organismo e Riscos à Saúde

“De pequenino é que se torce o pepino”, costuma dizer o povo português, mas quando a questão é saúde, nem sempre seguimos à risca este ditado. Vários estudos em animais têm mostrado que a ingestão prolongada de compostos de alumínio pode ter efeitos indesejáveis. Em 2008, a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) publicou um parecer técnico em que alertava para alterações no sistema nervoso de ratinhos submetidos a doses elevadas de sulfato de alumínio em ração — sintomas que iam desde dificuldades motoras até alterações comportamentais, como impaciência e ansiedade exacerbada.

No Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), na Universidade do Porto, uma equipa liderada pela professora Dra. Clara Marques desenvolveu, em 2015, um estudo experimental que analisou amostras de tecidos cerebrais de roedores. As conclusões preliminares indicaram acumulação de alumínio em áreas críticas, como o hipocampo, responsável pela memória e pelo processamento emocional. Ainda que a extrapolação direta para humanos exija cautela, a hipótese de que o alumínio contribua para processos neurodegenerativos, como o Alzheimer, não pode ser descartada.

Contudo, o nosso organismo absorve apenas cerca de 0,1% a 0,3% do alumínio ingerido, segundo dados do National Institute of Environmental Health Sciences (NIEHS), nos EUA. Grande parte é excretada pelos rins, mas em pessoas com função renal comprometida — estima-se que 850 mil portugueses vivam com algum grau de insuficiência renal segundo a Sociedade Portuguesa de Nefrologia — a capacidade de eliminação cai, elevando o rácio de acumulação.

Para juntar mais lenha na fogueira, o Environmental Working Group (EWG), nos EUA, publicou em 2021 um levantamento que identificou a presença de sulfato de alumínio e sódio em 42% das marcas de fermento e em 27% das pré-misturas analisadas. Concluíram que, em consumidores habituais de pão de forma e bolos caseiros, a ingestão diária de alumínio pode ultrapassar o limite tolerável de 1 mg por quilo de peso corporal, recomendado pela EFSA.

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Além das potenciais neurotoxicidades, o E522 é classificado no PubChem como irritante ocular e dérmico em caso de contacto direto com o pó, podendo desencadear tosse e irritação respiratória em trabalhadores de fábricas de moagem, segundo relatórios da Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA).

Panorama Regulatório Global e SB25 no Texas

A globalização trouxe produtos de todo o mundo às nossas mesas, mas também disparidades na forma como cada país encara os riscos. Na União Europeia, o Regulamento (EC) No 1333/2008 autoriza o E522 em quantidades muito restritas — inferiores a 10 mg/kg de produto final — sob a premissa de que a exposição alimentar média se situa abaixo dos 0,1 mg/kg de peso corporal por dia.

Nos Estados Unidos, o Código Federal de Regulamentações (CFR) 21 §182.1131 considera o sulfato de alumínio e sódio “geralmente reconhecido como seguro” (GRAS), desde que as Boas Práticas de Fabrico (GMP) sejam respeitadas. Contudo, a base de dados EAFUS da FDA lista-o como agente de fermentação e controlo de pH, sem limites explícitos, deixando margem para variações segundo o fabricante.

Já em Canadá, o Health Canada inclui o E522 na lista de aditivos permitidos até 900 ppm em farinha, enquanto em Austrália, o FSANZ não o autoriza, posição que alinha o país com o Reino Unido, onde o ingrediente sofre restrições semelhantes às da UE.

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A olhar para Sul e Centro-América, os países do Mercosul não mencionam diretamente o E522 nas normas de aditivos alimentares, mas impõem limites ao alumínio em contacto com alimentos, seguindo as resoluções GMC 46/06 e Res. 48/2023, que regulam ligas metálicas em embalagens e utensílios.

No coração desta discussão legislativa está o Projeto de Lei 25 (SB 25) do Texas, baptizado de “Make Texas Healthy Again”. Aprovado por ampla maioria na legislatura do Texas em maio de 2025, o texto aguarda a assinatura do governador Greg Abbott. Se ratificado, exigirá rótulos de advertência em toda a gama de produtos contendo ingredientes banidos ou sinalizados noutras jurisdições, entre os quais o sulfato de alumínio e sódio. A Texas Public Health Coalition, principal organização de apoio à iniciativa, defende que os consumidores texanos merecem saber quando estão a ingerir substâncias que a UE, o Canadá ou a Austrália consideram prejudiciais.

Presença em Alimentos em Portugal e Recomendações

Aqui à nossa volta, em Lisboa ou no Porto, encontramo-lo em marcas familiares de fermento panário, como a National e a Dr. Oetker, e em misturas prontas de pastelaria, como as que se vendem no El Corte Inglés e no Continente. Um levantamento informal levado a cabo pela DECO Proteste, em 2024, revelou que 35% dos fermentos analisados continham E522, um valor que sobe para 52% nas pré-misturas mais económicas.

Para quem não quer levar areia ao moinho do corpo, a alternativa é clara: escolher fermentos “alumínio-free”, hoje disponíveis em cadeias como o Pingo Doce, Lidl e Auchan, ou aventurar-se com o velho truque caseiro: misturar 2 partes de bicarbonato de sódio com 1 parte de creme de tártaro (fermento de potássio). Em 2023, a plataforma de culinária Receitas da Tia registou um aumento de 120% em pesquisas por “fermento sem alumínio”.

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E antes que fechemos a tampa do forno, fica o alerta: ler sempre rótulos, preferir produtos com ingredientes que reconhecemos no nome e apoiar políticas que promovam maior transparência alimentar. Afinal, quem não gosta de um bolo fofinho, mas ninguém quer salpicos de químico à borla.

Nesta série "Perigo Invisível no Prato", vamos informá-lo sobre os riscos que corre ao consumir alimentos com estas substâncias. Segue abaixo uma lista com os 40 ingredientes alimentares que estão na mira do Projeto de Lei 25 (SB 25) do Texas:

À medida que desvendamos o complexo mundo dos aditivos alimentares, ingrediente a ingrediente, a teia da indústria alimentar começa a revelar os seus segredos. Cada substância analisada não é apenas um nome num rótulo, mas sim um capítulo na história da nossa alimentação, com um propósito específico, um percurso regulatório e, mais importante, potenciais implicações para a nossa saúde.